Estudo mostra que pacientes que tiveram Covid-19 podem sofrer disfunções cognitivas

Segundo pesquisa do Incor, a doença causou dificuldade de concentração ou atenção, perda de memória, problemas com a compreensão, confusão e até perda da coordenação motora em 80% das pessoas

  • Por Jovem Pan
  • 10/02/2021 05h03
EFE coronavirus Segundo Lívia Stocco Sanches Valentin, responsável pela pesquisa, as sequelas são independentes do nível de gravidade da Covid-19

Depois de pegar Covid-19 em julho de 2020, a professora Marília Fátima de Oliveira começou a perceber alguns sintomas estranhos. De um dia para o outro, ela passou a ter lapsos de memória, e esquecer, por exemplo, nomes de livros e de autores que cita há anos em suas aulas, além de não lembrar de frases completas. Mesmo com o grande nível de esquecimento, demorou para que Marília entendesse que o problema era uma sequela da infecção pelo coronavírus. “Eu pensei ‘será que estou com Alzheimer’? Eram uns brancos, dava um branco, totalmente branco, não sei o que foge. É como se a linguagem, que é o meu instrumento de trabalho, fugisse do meu cérebro. É assustador.”

As disfunções cognitivas em pessoas que tiveram a doença, no entanto, são mais comuns do que se imagina. Desde março do ano passado, o Instituto do Coração de São Paulo realiza uma pesquisa inédita no mundo com esses pacientes. Segundo o estudo, a doença causou dificuldade de concentração ou atenção, perda de memória, problemas com a compreensão, confusão e até perda da coordenação motora em 80% das pessoas. A neuropsicóloga do InCor e responsável pela pesquisa, Lívia Stocco Sanches Valentin, explica que as sequelas são independentes do nível de gravidade da Covid-19 e ainda não se sabe quanto tempo podem permanecer. “Não interessa se é grave, moderado ou assintomático e sim de pessoa para pessoa. Ninguém está dando o devido valor para o pós-Covid, o que fazer para as pessoas que tiveram a Covid e as sequelas que ela deixa.”

Atualmente, 430 pacientes estão sob acompanhamento dos pesquisadores do Incor. Depois de serem avaliadas, as pessoas que demonstram sequelas participam de uma etapa de reabilitação. Se ainda assim as disfunções cognitivas permanecerem, o Incor trabalha em uma terceira fase da pesquisa para continuar tratando esses pacientes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) também aguarda os resultados finais do estudo para adotar a metodologia desenvolvida no InCor em âmbito mundial no diagnóstico e na reabilitação da disfunção cognitiva pós-Covid.

*Com informações da repórter Beatriz Manfredini 

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