Ex-presidente do BNDES chama alta taxa de juros de ‘veneno’, mas desaprova falas de Lula contra o BC

Em entrevista ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, Paulo Rabello de Castro também falou sobre a posse de Aloizio Mercadante como presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES)

  • Por Jovem Pan
  • 07/02/2023 11h16 - Atualizado em 07/02/2023 11h19
FáTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO Lula O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, gesticula durante uma reunião com representantes sindicais no Palácio do Planalto em Brasília

Nesta segunda-feira, 6, Aloizio Mercadante tomou posse na presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O novo comandante da instituição declarou que o incentivo à micro, pequenas e médias empresas está entre as prioridades, para isso defendeu a necessidade de juros mais competitivos. Para analisar as falas de Mercadante e as expectativas da nova gestão do banco, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou o ex-presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, que também falou dos recentes embates que o presidente Lula (PT) tem travado com o Banco Central por causa da manutenção da taxa de juros: “Qualquer economista que não tenha rabo preso com o mercado financeiro tem que fazer uma avaliação crítica do fato do Brasil ser corrente e continuamente o país que está sempre ganhando o campeonato mundial de taxas de juros reais. Nós somos um país que utiliza esse veneno de taxas de juros altas contra o setor produtivo nacional, e particularmente o setor industrial costuma ser mais penalizado do que os demais por vários motivos”.

“Não é à toa que a nossa indústria está 20% abaixo do patamar em que estava há uma década atrás, porque essa taxa de juros é venenosa. A crítica que eu ouvi, e estava lá o presidente Lula a fazer, é uma crítica que eu faço porque não estou no governo e não tenho poder nenhum. Ele tem poder. Ao invés dele falar tanto ele devia, ao meu ver, fazer (…) O presidente da República sair falastrando em discurso é absolutamente inútil e apenas uma forma de preencher espaço pela falta de ideias que o governo, até o presente momento, infelizmente tem apresentado. Uma grande falta de ideias e de preparo antecipado, porque teve um tempo razoável de transição. Além do mais, eles tiveram 40 anos para pensar o que vão fazer para o Brasil. Não precisamos mais de generalidade e nem de reclamações, precisamos de ações”, explicou.

Rabello elogiou a escolha de Mercadante para o cargo, disse que o petista, por ser doutorado em economia, “não tem o direito de errar muito no campo econômico”. O ex-presidente do BNDES também afirmou que a nova diretoria da instituição tem um “perfil altamente técnico” deu sua opinião sobre quais rumos o banco deve tomar em sua nova gestão: “O banco é como a mulher de César, ela não precisa apenas ser correta, ela precisa parecer correta. O banco precisa resgatar a imagem de compromisso com o desenvolvimento econômico do Brasil, sem nenhuma influência de caráter não-republicano. Isso é essencial para resgatar esse trabalho, que de forma republicana é muito necessário (…) O enorme potencial de exportação que temos, não só em relação à China, uma grande compradora, mas e a Índia, que se torna o país mais populoso e também o que mais cresce aceleradamente no mundo. E todo o Sudeste Asiático, e a Europa e o próprio mercado americano. Tudo isso requer, por exemplo, crédito à exportação”.

“Nós temos que superar essa diatribe, essa coisa ranzinza, de mencionar dois ou três maus pagadores por enquanto, porque são devedores que estão em atraso e, mais hora, ou menos hora, haverão de pagar. Aparentemente, o presidente inclusive disse que, com uma boa diplomacia, vão começar a desembolsar. Eu também acredito que sim e tem como fazer isso. Nós temos é que retomar o projeto de crédito à exportação, porque todo país que realmente se torna uma potência econômica tem um braço de crédito às exportações. Esse crédito vai para o importador, que compra os produtos da mão daqueles trabalhadores que no Brasil realizam as manufaturas e também prestam os serviços, inclusive de engenharia, quando são adquiridos do exterior”, argumentou.

O economista defendeu que é importante que o BNDES se mantenha ativo no fomento de micro, pequenas e médias empresas, que representam cerca de metade dos investimentos do banco. Entretanto, ele ponderou que também é fundamental que grandes empreendimentos sejam também financiados: “Brasil ainda não tem um mercado amplo de taxas de financiamento para longo e longuíssimo prazo. Existem determinadas grandes construções, construções pesadas, como barragens e hidrelétricas, que têm normalmente uma demanda de financiamento, porque eles tem obviamente um retorno a esses projetos de longo prazo. Aí entra o banco complementando, ele nunca atua sozinho, e agindo coordenadamente com as demais fontes privadas existentes no mercado. Por exemplo, em grandes projetos como o Metrô”.

“A forma de financiar esses projetos exige, em um país ainda em desenvolvimento como o nosso, a participação não competitiva, mas colaborativa, de um órgão como o BNDES. E digo mais, não é só o Brasil. A Alemanha, que é um país considerado altamente desenvolvido, tem o seu banco de desenvolvimento. No caso, menos voltado para esses projetos de construção pesada, mas na nova fronteira digital, tecnológica, de cidades inteligentes, agricultura de precisão e por aí vai”, defendeu. Confira a entrevista na íntegra no vídeo abaixo.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.