Guedes: Transferência do Coaf para o BC deve barrar ‘intervenção política’
O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a transferência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) para o Banco Central (BC), transformando-o, através de uma Medida Provisória (MP) publicada em agosto, na Unidade de Inteligência Financeira (UIF), foi um pedido pessoal seu para evitar “perseguições políticas” dentro do órgão.
“O papel de fiscalizador de movimentações financeiras do Coaf eu coloquei no Banco Central independente. Pedi, conversei com Maia, e a ideia é depositá-lo lá para que não haja aparelhamento, intervenção política, nada disso. É uma mecânica de inteligência sobre movimentação de dados”, explicou.
“Quando colocaram o Coaf dentro do ministério da Fazenda, eu senti que era tóxica essa mistura. Todo esse combate que está havendo e estados assistindo – de um lado a caravana da Lava Jato, buscando a Justiça, e do outro um establishment defendendo sua impunidade -, começa esse conflito muito natural de uma democracia em aperfeiçoamento. Mas, quando começa essa complexidade, temos que impedir as figuras tóxicas. O foco era: estão usando a Receita Federal para instrumentar o Coaf, para que faça perseguições políticas. Então quer dizer que o Coaf e a Receita estavam muito próximos”, acrescentou.
Em entrevista à Denise Campos de Toledo, da Jovem Pan, ele citou que os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e do Senado Federal, Davi Alcolumbre (DEM-AP), assim como o próprio presidente Jair Bolsonaro (PSL) – com seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) – já haviam reclamado de uma possível perseguição e que, por isso, além da transferência, é necessária uma “renovação no espírito” na Receita Federal (RF).
“Temos [na RF] mais de 30 mil funcionários públicos muito dedicados, mas nós estamos dispostos a fazer uma renovação no espírito da Receita. Não queremos uma Receita Federal abusiva, que se exceda, envolvida em tumultos políticos. Porque ela virou uma fronteira de disputa. O presidente do Supremo [Tribunal Federal, Dias Toffoli] entrou lá para fazer uma interferência porque eles estavam, aparentemente, sob suspeita do algorítimo, que estaria fazendo perseguições políticas”, disse, citando a decisão de Toffoli de paralisar as investigações do Coaf.
Apesar da mudança, Guedes garantiu que o foco de combate à corrupção do órgão permanece intacto. “Se achar quadrilhas de tráfico de drogas, grupos de interesses comprando favores políticos por influência no Congresso, isso vai para a esfera política, para o Ministério Público, como sempre, mas dentro do Banco Central. Detectou algo errado, encaminha”, disse.
“O importante é que não exista a suspeita ou a possibilidade real de aparelhamento político. Houve um mal entendido: a gente coloca isso dentro do BC exatamente para blindar, para ver que precisa ser independente. Fora que [tornando o banco independente, uma das propostas de Guedes para a economia], o mandato do chefe do BC não vai coincidir com o do presidente, do governador, então tem independência para investigar movimentações financeiras. Isso está blindado”, ressaltou.
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