‘Juros estão altos porque o governo gasta demais’, diz economista Roberto Dumas

Professor criticou a declaração do vice-presidente Geraldo Alckmin de que é preciso baixar a Selic para retomar a reindustrialização: ‘Baixar na marretada não vai adiantar’

  • Por Jovem Pan
  • 28/03/2023 08h00 - Atualizado em 28/03/2023 12h14
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Reprodução/Jornal da Manhã/Jovem Pan News Economista Roberto Dumas em entrevista ao Jornal da Manhã nesta terça-feira Economista Roberto Dumas em entrevista ao Jornal da Manhã nesta terça-feira

O professor de economia do Insper Roberto Dumas concedeu entrevista ao vivo para o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, nesta terça-feira, 28, para falar sobre o cenário internacional da economia e também o contexto brasileira. Segundo ele, o problema dos juros altos no Brasil, com taxa Selic mantida em 13,75% pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) não podem ser resolvidos “na marretada”. Ele ainda defendeu a manutenção da taxa no mesmo patamar por falar que existe atualmente uma inflação por demanda, o que, ainda segundo ele, deve ser resolvido com a taxa de juros. “Já estão arranjando um bode expiatório para o pequeno crescimento. Não se baixa juros na pancada. Isso não é história de Big Brother. Não adianta fazer passeata no meio da [Avenida] Paulista, hashtag baixa os juros já. Os juros estão altos porque o governo gasta demais. Isso já foi falado várias vezes. Um dos títulos que há para financiar a dívida pública é IFT, letra financeira do Tesouro, atrelada à Selic, que nós compramos 70%. Nós compramos a dívida pública. Então vamos fazer o seguinte, vamos tentar uma experiência, baixar o juros para 8% e vamos ver quem compra título da dívida, pagando 8% e sabendo dos riscos, porque o governo federal, não estou falando deste governo, estou falando desde o início da República, já deu calote 20 vezes na dívida pública. A última vez, vamos lembrar do governo Collor“, declarou o professor.

“Estamos com problema numa política fiscal expansionista desde a época de Bolsonaro, e agora com a PEC da Transição, e o Banco Central está querendo pisar no freio, para tirar esse expansionismo, porque há, sim, uma inflação de demanda. Não tem nada mais feio do que falar que não estamos com uma inflação de demanda. Como não estamos com inflação de demanda se o preço de viagem está subindo, preço do restaurante está subindo, preço do passeio turístico está subindo? Ainda vamos continuar culpando a guerra na Ucrânia? É óbvio que estou com uma inflação de demanda e de oferta. E isso se combate com taxa de juros. Me admira um pouco o vice-presidente [Geraldo Alckmin] achar que baixar os juros volta com a reindustrialização. Cadê o problema do saneamento básico e da educação básica? Acha que se baixar juros o país fica competitivo e consegue competir com uma Coreia, um Japão, com os Estados Unidos, com a Alemanha? Isso é, realmente, fechar os olhos para o problema da industrialização no Brasil. Baixar os juros na marretada não vai adiantar. Baixar de 13% para 10% na pancada, a ponta longa da curva de juros sobe e, no final das contas, os bancos fazem as contas de acordo com a curva de juros, então não adianta. Porque quem manda são os financiadores da dívida pública, que no final das contas são os mesmos que ‘tocam fogo’ em ‘cavalo de Tróia’ na Avenida Paulista. Eles não sabem, mas eles que determinam a taxa de juros quando eles põem seu rico dinheirinho em um fundo D.I. É preciso que eles tenham perfeitamente o conhecimento disso”, continuou Dumas.

Ainda segundo o economista, encerrar uma política fiscal expansionista e apresente o novo arcabouço fiscal o quanto antes se quiser reduzir os juros. “Sem o arcabouço fiscal e enquanto tenho uma política fiscal expansionista, o cenário de baixo crescimento é verdadeiro. É importante que o governo pare de brigar e tentar achar um único culpado. Eu nunca vi o governo falar ‘a culpa é da gente, que gasta demais’.  São quase R$ 6 trilhões do nosso orçamento federal que parece não tem absolutamente nada para cortar. O problema é o juro. Não o juro é consequência. Eu não quero essa taxa de juro? Então, eu, enquanto financiador, não invisto no título público. E, aí, como o governo vai levantar dinheiro para fazer todas as políticas sociais? Obviamente, graças a Deus, não temos um relacionamento promíscuo com o Banco Central, como a gente tinha. Vale o mesmo que para a nossa política de economia doméstica vale, ou seja, se eu gasto demais e peço muito dinheiro para o banco, provavelmente ele vai me falar que está mais arriscado a me cobrar mais juros”, disse o economista.

“Esperamos que seja um arcabouço crível, que dê previsibilidade e nos ajude a calcular a trajetória da dívida pública em relação ao PIB, não seja um algorítimo impossível de se imaginar. Agora, vamos pensar o seguinte: quantos arcabouços fiscais o Brasil já teve? O teto de gastos, não funcionou; a regra de ouro, não funcionou; a lei de responsabilidade fiscal, não funcionou; a meta de superávit primário, não funcionou. Um governo que, provavelmente, tem uma digital mais estatizante, para aumentar o investimento em saúde, em educação, em obras públicas, qual a probabilidade de, eventualmente, esse arcabouço funcionar? Vamos continuar otimistas, mas cautelosos. Eu acho que esse arcabouço fiscal novo deve vir bem folgado, flexível, e muita flexibilidade, não é isso que um financiador da dívida pública deseja. Gostaria de uma coisa que demonstrasse mais retidão fiscal, mas o mercado está dando o benefício da dúvida. Não vamos esquecer que nenhum arcabouço fiscal no Brasil, em vários governos, funcionou. O governo tem fama de gastador. E este governo [de Lula] tem mais fama de gastador ainda. Vamos ver se agora essa fama de gastador com um novo arcabouço fiscal vai funcionar e teremos uma trajetória descendente da dívida pública, sem ajuda de parceiros comerciais, um problema nosso, tem que ser uma coisa estrutural, não conjuntural. Vamos aguardar”, refletiu o professor Duma.

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