Manutenção da taxa de juros foi surpreendente, diz ex-ministro Maílson da Nóbrega
Depois de 12 cortes consecutivos e contrariando o mercado financeiro e a própria sinalização do presidente do Banco Central Ilan Goldfajn, a taxa básica de juros (Selic) se manteve estável em 6,5%.
Em entrevista à Jovem Pan, o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega classificou a decisão como “surpreendente”
“Há uma semana o presidente do Banco Central deu entrevista com afirmação muito enfática que sinalizava um queda”, lembrou Maílson.
“Haverá neste momento muita insatisfação do mercado, muita gente vai perder dinheiro, e isso vai azedar pouco o ambiente”, prevê.
“Só uma leitura da ata que vai sair na próxima semana vai trazer uma avaliação mais adequada de como o Banco Central avaliou o balanço de riscos, que pendeu para a manutenção da taxa Selic, que provavelmente será a mesma até o final do ano”, ponderou o ex-ministro.
Para Maílson, não há perigo inflacionário. “Mesmo que o dólar vá para R$ 3,80 e o petróleo suba, isso daria um impacto de meio ponto porcentual e mesmo assim o Banco Central atingiria a meta de inflação de 4,5% neste ano”, disse.
“Não havia força na economia para a transferência ao preço da desvalorização cambial, pois a atividade econômica ainda está indo muito devagar”, afirmou. “Se ainda não saímos de todo da situação lastimável da economia em que o presidente Temer recebeu a economia, parece que não havia razão aparente para temer o descontrole da inflação”, declarou.
Maílson vê no BC uma “atitude mais conservadora do que se esperava”.
Ele ressalta, no entanto, que “há seis meses, ninguém diria que chegaria a 6,5%”. “Mas já que chegou a 6,5 e o BC sinalizava mais uma queda da Selic, as apostas convergiam para 6,25”.
Dólar
O economista analisou que a alta do dólar frente ao real “reflete mais o cenário externo, basicamente a percepção de que a política monetária americana vai ser mais firme na normalização, e o dólar está se valorizando perante todas as demais moedas”.
Mas, este contexto aplicado à queda dos juros brasileiros, também afasta investimentos.
“A diferença de taxa entre a Selic e a taxa de juros americana diminuiu bastante, reduzindo a atratividade da moeda estrangeira aplicada nos papéis do Tesouro no Brasil”, disse.
Risco-eleição
“Começa a entrar no radar dos investidores o risco da eleição”, entende Maílson.
Ele prevê que, se candidatos populistas estiverem na liderança das pesquisas até daqui a uns “três meses”, “o dólar passa de R$ 4,00 até o final do ano”.
Mas, na opinião do ex-ministro, “caminhamos para eleger um candidato de centro”. “Se isso ocorrer dólar tende a cair R$ 3,40, R$ 3,50 no final do ano”, projeta.
Ressaltando a força das reservas internacionais brasileiras, Maílson disse que “não temos nenhum risco aparente de risco cambial, crise bancária”.
Ouça a entrevista completa:
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