Mapa da Desigualdade: Moradores de Moema vivem 23 anos a mais que em Cidade Tiradentes

  • Por Jovem Pan
  • 06/11/2019 07h08 - Atualizado em 06/11/2019 07h16
HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO CONTEÚDO Vista de uma favela e ao lado prédios de luxo Vista aérea da favela de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo; ao fundo, edifícios do luxuoso bairro do Morumbi, um dos mais nobres da capital paulista

Em São Paulo, quem mora em Moema pode viver 23 anos a mais do que um morador de Cidade Tiradentes. Os dados são do Mapa da Desigualdade, publicado nesta terça-feira (5) pela Rede Nossa São Paulo.

As diferenças vão além dos 40 quilômetros que separam os dois distritos: Moema, na zona sul da capital, tem apenas 5,8% da população negra. Em Cidade Tiradentes, no extremo leste, o número de negros salta para 56%.

Questões como acesso à saúde e à cultura também apresentam abismos. Um morador de Cidade Tiradentes, por exemplo, precisa esperar quase 11 dias para conseguir uma consulta médica. Em Moema, o tempo de espera é zero.

A coordenadora da Rede Nossa São Paulo, Carolina Guimarães, explica que, além do problema social, a desigualdade também traz entraves econômicos. “Eu acho que o que a gente está trazendo aqui nesse debate é que as periferias tem as respostas, tem as soluções, elas só precisam ser potencializadas. A desigualdade é ruim para a coesão social e ela é ruim até para a economia, se a gente quer ver só por esse ângulo.”

De acordo com a entidade, as desigualdades são fenômenos complexos e com fatores multissetoriais. Guimarães reforça que as soluções não podem ser paliativas. “O que o mapa traz é que precisamos pensar mais conjuntamente de formas complexas. Não dá para a gente ter soluções band-aid, só em zeladoria. Investimento só em zeladoria não adianta, a gente precisa ter investimentos a longo prazo, especialmente em educação, que vai além de um mandato e de repente não é um investimento para a reeleição, mas para a população”, disse.

Quando se fala em direitos humanos, a região da Sé é a pior. Os dados mais altos de violência racial e contra a mulher se concentram nesse distrito. A coordenadora da Rede  ossa São Paulo, no entanto, explica que os números de feminicídio, por exemplo, não revela uma relação direta entre centro e periferia. Isso porque esse tipo de violência aumentou em âmbito geral. “É muito triste porque você vê aumentos gritantes. Você tem 259 feminicídios em 2018, ou seja, quase um por dia por questões de gênero.”

O Mapa da Desigualdade da Rede Nossa São Paulo analisou 53 indicadores. O levantamento mostrou, ainda, que a maior parte dos distritos da capital paulista não têm equipamentos culturais, como museus, bibliotecas, teatros ou casas de show.

No último domingo (3), o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pediu aos estudantes que fizessem uma redação justamente sobre a democratização do acesso ao cinema.

*Com informações da repórter Marcella Lourenzetto 

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