Morte de Maradona repercute na Europa e estampa capa de principais jornais

Na Inglaterra, traços ácidos da sociedade deixaram claro que o trauma da Copa de 86 nunca será esquecido

  • Por Ulisses Neto/Jovem Pan
  • 26/11/2020 09h08 - Atualizado em 26/11/2020 09h27
EFE/EPA/CIRO FUSCO - 26/11/20 Fã de Maradona, na Itália, usa máscara de proteção estampando a imagem do ídolo do futebol

A morte de Diego Maradona causou o tipo de comoção ao redor do mundo que raramente se vê ao longo de uma geração. Na Europa não há publicação de relevância que não preste algum tipo de homenagem para o ídolo argentino nesta quinta-feira, 26. Entre as capas mais emotivas está a do diário esportivo parisiense L’Equipe, que tem a manchete: “Deus está morto.” Na Itália, onde Maradona é tratado como santidade em Nápoles, a Gazzetta dello Sport estampa sua capa com uma foto de Maradona beijando a Copa do Mundo e o título “eu vi Maradona” em referência a uma das músicas de torcida mais emblemáticas feitas para o craque.

Na Espanha, o diário esportivo Marca ilustra a primeira página com uma declaração icônica de Dom Diego: “Se morrer, quero nascer de novo e quero ser jogador de futebol. E quero ser Diego Maradona outra vez. Sou um jogador que deu alegria para as pessoas e isso já me basta e sobra.” Na Inglaterra as homenagens também estão por todas as partes, mas os traços ácidos da sociedade local deixaram claro que o trauma vivido na Copa de 1986 nunca será esquecido. Na mesma partida, com poucos minutos de diferença, Maradona fez dois gols antológicos contra a Inglaterra. Um com a mão, é verdade. E os ingleses fazem questão de lembrar.

Um dos personagens daquela partida no Estádio Azteca foi Gary Lineker, que hoje é um dos principais nomes da TV britânica. Lineker foi ao Twitter homenagear o ídolo morto e terminou dizendo que agora ele estava nas mãos de Deus. O sentido duplo da frase é utilizado por diversos jornais e tabloides de Londres nesta manhã. O Daily Star, por exemplo, tem a foto do lance do gol de mão com a manchete: “Onde estava o VAR quando mais precisávamos dele?” e o subtítulo diz: “O segundo maior jogador de futebol na face da Terra, o atacante argentino Diego Maradona, morreu na noite passada por um ataque cardíaco.”

Praticamente todos os tabloides chamam Maradona de trapaceiro, ainda que se curvem a inequívoca genialidade dele. O goleiro inglês naquela fatídica partida, Peter Shilton, ditou o tom no Daily Mail. Ele disse: “O que eu não gosto é que ele nunca se desculpou e sempre usou a frase da mão de Deus. Isso não foi certo. Aparentemente ele tinha grandeza, mas não espírito esportivo.” Maradona não virou santo depois de morto. Mas, para a maior parte do mundo, isso sequer era necessário porque o craque ocupava uma posição acima, de qualquer forma.

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