Mudanças nas regras para reprodução assistida devem aumentar custos; entenda

Medidas devem dificultar o acesso ao procedimento e diminuir a taxa de sucesso; entre as novas regras está o limite de oito embriões gerados em laboratório no processo

  • Por Jovem Pan
  • 05/07/2021 08h01 - Atualizado em 05/07/2021 11h59
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Pixabay Médico conversa com paciente grávida em consultório Outra alteração do CFM é a necessidade de aval judicial para descarte de embriões congelados

A vontade de ser mãe fez a Daiana Gomes levar uma rotina intensa de consultas e exames durante anos. O sonho quase se realizou em 2017, mas a pequena Olívia, fruto de uma fertilização in vitro, não resistiu após um parto prematuro. Apesar das dificuldades, Daiana não pretende desistir. “Passamos por um processo de luto e resolvemos recomeçar, recomeçar, na verdade, voltar de onde tínhamos parado. Hoje, estamos no meio do tratamento, resolvemos interromper um pouco por conta da pandemia mesmo, da situação. A gente sabe da gravidade da Covid-19 para gestantes, então resolvemos esperar um pouco antes da transferência de embriões e agora estamos no meio do tratamento”, conta. A partir de agora, no entanto, pode ser que muitas tentantes, nome carinhoso dado às mulheres que realizam tratamento para engravidar, encontrem dificuldades. Isso porque o Conselho Federal de Medicina (CFM) mudou as regras de reprodução assistida no Brasil. Uma portaria publicada limitou a oito o número de embriões que podem ser gerados em laboratório no processo. Outra alteração é a necessidade de aval judicial para descarte de embriões congelados, o que não era exigido.

Os pontos têm gerado preocupações entre médicos e pacientes. A Daiana, que é uma das idealizadoras da página do Instagram “FIV Depressão”, até criou um abaixo-assinado que já conta com mais de seis mil assinaturas pedindo a revisão das novas normas. Para Cláudia Gomes Padilla, especialista em reprodução assistida do Grupo Huntington, parte das medidas deve dificultar o acesso ao procedimento, diminuir a taxa de sucesso e aumentar os custos, que já são altos. “A gente sabe que o sucesso da fertilização in vitro está associado ao número de embriões formados. Quanto mais embriões a mulher forma, mais oportunidades ela vai ter de uma gestação futura e infelizmente nem sempre colocar um embrião resulta em gestação. Isso pode diminuir a eficácia do tratamento quando a gente limita o número de óvulos a ser fertilizado e a formação dos embriões no laboratório.”

A presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, Hitomi Miura Nakagawa, reconhece, porém, que há mudanças positivas na nova resolução. “É muito bem vinda a resolução no seu contexto geral, houve muitos avanços. Ela foi muito mais inclusiva no sentido de que as doadoras, por exemplo, a idade limite era 35 anos e passou a ser 37 anos. Que tanto fazia transferir dois embriões até 35 anos quanto até 37 anos, a estatística de sucesso seria semelhante. Com essa determinação, a gente sabe que existe uma redução do risco de gravidez múltipla, de trigêmeos, por exemplo. Então são avanços que a gente tem que considerar”, pontuou. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), atualmente, o Brasil tem 183 centros de reprodução assistida, sendo a maioria na rede privada. Um levantamento da Anvisa mostra que em 2019 foram realizados 44 mil ciclos de fertilização in vitro no país.

*Com informações da repórter Letícia Santini

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