Pesquisa aponta que 63% das mães tiveram sintomas depressivos na pandemia

Quadro se apresenta pela de uma rede de apoio e acúmulo de funções no período; oscilações bruscas de humor, irritabilidade, insônia, choro desmotivado e taquicardia estão entre os sinais apresentados

  • Por Jovem Pan
  • 04/07/2021 11h29 - Atualizado em 04/07/2021 11h31
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Engin Akyurt/Pixabay Mulher usa máscara branca, veste jaqueta preta e apoia a mão na cabeça Segundo estudo da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, 63% das mães tiveram sintomas depressivos na pandemia

No início da pandemia, a esteticista Camila Prado viu a vida mudar por completo. Ela se separou do marido, foi morar sozinha com a filha de quatro anos e perdeu o emprego. Sozinha, Camila começou a ter crises de pânico e a ser julgada pela família. Além disso, os vizinhos, de home office, começaram a reclamar da filha dela. “Tinham brigas por causa do barulho da minha filha brigando. Tive sérios problemas, tive que sair de lá, os vizinhos não me queriam lá com a criança. Durante um ano me senti um inútil e só recebendo julgamentos, não tenho nem palavras para descrever o que eu senti. Só me senti uma inútil de tantas palavras negativas que recebi o ano todo. Já estava sentindo uma coisa perigosa comigo: ‘se eu não procurar ajuda, de noite vou me matar'”, conta. Segundo estudo da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, 63% das mães tiveram sintomas depressivos durante a pandemia. Justamente a falta de uma rede de apoio e acúmulo de funções têm causado a exaustão no período.

A neuropsicóloga da Clínica Maia, Katherine de Paula Machado, afirma que não há nada de biológico que torna as mulheres mais suscetíveis aos quadros de depressão e ansiedade. O problema, segundo ela, é uma questão histórica. “Não existe nenhuma pesquisa que mostre que a mulher fica mais vulnerável em uma situação de estresse. A mãe sim. Mas dentro de um contexto social. Na pandemia parece que isso ficou mais agravante, porque a mulher para poder contribuir na renda familiar, ou trabalhar porque realmente faz sentido para ela, não deixa de cuidar da casa, não deixa de cuidar do filho. Tem aquela cobrança interna muito grande que a mãe tem que atender as necessidades desse filho, ainda mais em contexto de ensino remoto. Quando a gente soma fica muito complicado para a mulher porque é esperada que ela seja sempre perfeita, esteja sempre satisfeita com o filho, seja aquela pessoa organizada no contexto doméstico e aí traz um sentimento de culpa muito grande quando ela não consegue.”

Oscilações bruscas de humor, irritabilidade, insônia, choro desmotivado, taquicardia e alterações bruscas no padrão de alimentação são sinais de um quadro depressivo. Katherine de Paula Machado ressalta ainda a importância de pedir ajuda. “A pessoa que acaba adoecendo não consegue entender o contexto geral. Até por conta da culpa, ela começa a achar que tem que dar conta e se ela pedir ajuda isso significa que ela não é competente para realizar a tarefa, especialmente nesse contexto da mãe. Em caso de adoecimento, o que é muito importante é escutar essa pessoa. Ela tem muita dificuldade de falar, de pedir ajuda, tanto pelo contexto do feminino, da mulher e pelo preconceito à saúde mental. Quando a pessoa não está bacana, o ideal é deixar ela falar. Essa fala já vai ajudar a colocar para fora o que ela sente e essa fala também vai ajudar ela própria a escutar o que ela tem a dizer e organizar o pensamento. A partir disso, a pessoa que está escutando, além de dar esse lugar de fala, pode ajudar a pensar alternativas para esse trabalho ficar menos penoso”, disse.

Atualmente, Camila tem apoio de um terapeuta e de remédios homeopáticos e, pela primeira vez desde março, começou a se sentir bem. O desafio de criar a filha sozinha e sair para trabalhar, no entanto, continua. “Eu sou sozinha, não tem ninguém para ficar com ela para eu ir trabalhar. Sou mãe de segundo plano, não tenho essa mordomia de deixar com os meus pais, com meus avós, irmãos e ir trabalhar. Isso eu não tenho, ainda tem aluguel, babá. E o que sobra para mim? Comer né?”, afirmou. Atualmente, há 11 milhões de mulheres no Brasil que criam os filhos sozinha. Segundo dados do Instituto Locomotiva, 35% das mães solo não tiveram renda suficiente na pandemia para comprar alimentos para a família.

*Com informações da repórter Nanny Cox

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