‘Não existe país sério sem Banco Central independente’, afirma ex-presidente da instituição
Alexandre Schwartsman disse que medida acontece ‘antes tarde do que nunca’
O economista e ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman acredita que a independência do BC está sendo aprovada tardiamente, mas “antes tarde do que nunca”. De acordo com ele, esse é um bom projeto e que já estava sendo discutido há quase uma geração. “Desde que voltei ao Brasil, há 25 anos, já vinha sendo debatido. Talvez não o suficiente para membros da oposição, mas isso existe em todo o lugar. Não existe país sério sem BC independente. Se o país é sério, o Banco Central é independente, autônomo. Mas a recíproca não é verdadeira. Ter um BC independente não te faz um país sério.”
Em entrevista ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan, Schwartsman disse que “obviamente” houve caso de interferência política na instituição, ainda que ela já tenha uma postura autônoma de fato. “Os limites disso ficaram muito claros durante o Tombinato, o período em que Alexandre Tombini foi presidente. Ali, nitidamente, decisões de política monetária deixaram de ser baseadas em perspectivas de inflação e passaram a ser conveniências políticas. No ano eleitoral, a inflação ficou acima da meta. O BC só subiu a taxa de juros na reunião seguinte a eleição presidencial do segundo turno. Só não estouramos a meta porque seguramos o preço do combustível, da energia elétrica, do dólar. Muita gente fala que não precisava votar porque o Banco Central já é autônomo — mas só até o momento que não é. Até que você pega uma presidente que resolve mandar e um presidente do BC que resolve obedecer porque não tem outra alternativa.”
Para o economista, a única competência do BC em relação a geração de empregos é prestar a atenção no que está acontecendo. Ele citou que, na sua gestão, no final de 2004, a taxa de juros já tinha sido reduzida expressivamente e que a economia se “recuperou muito forte”. E a atitude tomada levar a inflação, que estava acima da meta, de volta ao lugar ao longo de 2005, para que, em 2006, ela estivesse em convergência. “O que dá para fazer é evitar flutuações muito bruscas. E o melhor jeito de fazer isso é agindo de maneira antecipada. Você não pode deixar acontecer como em 2014, que saiu de controle e ultrapassou dois dígitos. Crescimento de longo prazo o BC não entrega. Isso depende de produtividade, taxa de investimento, um conjunto amplo no ponto de vista macro.”
De acordo com Schwartsman, ainda que tenha divergências pontuais com a atual direção da instituição, ele acredita que ela deve permanecer. “Se formos olhar no geral, tem um trabalho bastante bom na parte de crédito, tecnologia e política monetária.” Ele acredita que a inflação no ano de 2021 deve fechar próxima da projeção, considerando o último semestre de 2020 que deve impactar até outubro. Para ele, a extensão do auxílio emergencial deve acontecer — mas precisa ser repensado com foco em quem perdeu o emprego no período. “Não dá para ignorar o impacto fiscal. Não precisa compensar neste ano, mas devia ter um conjunto de medidas que aponta para esse equilíbrio das contas públicas ao longo do tempo. Não precisa mais do que isso. Sem base de política fiscal, fica difícil fazer política monetária.”
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