‘Não somos contra a vinda de médicos do exterior’, diz diretor da AMB sobre Mais Médicos

Programa será retomado pelo presidente Lula (PT) para acelerar o envio de profissionais para a situação de emergência em saúde pública no território Yanomami, em Roraima

  • Por Jovem Pan
  • 24/01/2023 11h01 - Atualizado em 24/01/2023 15h02
Karina Zambrana/Fotos Públicas Mais Médicos Programa Mais Médicos foi lançado em 8 de julho de 2013 pelo governo de Dilma Rousseff

Nesta semana, foi anunciada a publicação de um novo edital do Programa Mais Médicos para alocar profissionais da saúde para a situação de emergência em saúde pública no território Yanomami, maior reserva indígena do Brasil, em Roraima. Criado nos governos petistas e interrompido em gestões posteriores, o programa será retomado pelo presidente Lula (PT). A prioridade é para profissionais brasileiros com registro nos conselhos regionais de medicina, depois, as vagas que não forem preenchidas serão oferecidas a médicos brasileiros formados no exterior e, em seguida, para os profissionais estrangeiros. Para falar sobre o assunto, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou o diretor científico da Associação Médica Brasileira (AMB), Dr. José Eduardo Lutaif Dolci, que destacou a importância dos profissionais fazerem o Revalida, exame que legitima diplomas médicos expedidos por universidades de fora do Brasil: “Nós não somos contra a vinda de médicos do exterior para cá. E nem de médicos brasileiros formados no exterior que venham. O que nós pedimos é que eles façam a prova do Revalida, porque não faz sentido você trazer médicos do exterior para entrar no mercado de trabalho se não tiverem o mínimo de competência para esse trabalho”.

“O argumento que fazem é: ‘Se eu trouxer médicos da Europa, eles têm uma ótima formação’. Eu sei que tem, mas nem todas as escolas são iguais e nós precisamos realmente fazer a prova do Revalida. Esta é uma discussão e esta é uma reivindicação da classe médica. Não somos contra a entrada de médicos estrangeiros ou brasileiros que estão no exterior, desde que façam a prova do Revalida (…) Nós temos de ter o mínimo de noção de como são formados esses profissionais, para que possam atender dignamente a nossa população. A AMB tem duas bandeiras importantes, defender os médicos e defender a população, os pacientes. Então, se nós trouxermos pessoas desqualificadas, e eu não estou afirmando que todos são desqualificados, mas nós precisamos ter certeza de que são qualificados para atender à população brasileira”, argumentou.

Para o médico, também seria importante a criação de outras formas de incentivo para que médicos tenham condições de fazer suas carreiras em áreas que historicamente são afastadas da saúde pública: “Nós não precisamos de uma maior quantidade de médicos. O que a gente precisa é de uma distribuição adequada de médicos no Brasil. A grande concentração de médicos ocorre nos Estados do Sul e Centro-Sul. Isto acaba gerando uma falta de médicos nos locais mais distantes. Como nós poderíamos ter uma participação melhor dos médicos em todos os locais distantes? Precisamos ter uma política nacional de distribuição de médicos, seria a carreira de Estado do médico, da mesma forma que nós temos a carreira de Estado do delegado, do promotor e do juiz. Precisava ter a carreira do médico também, porque aí você tem condições de colocar médicos nos locais mais distantes possíveis”.

“Nós entendemos que existe uma carência de médicos em locais como Pará, Amazonas e Roraima, mas isso é porque não existe o menor incentivo e condições para que o médico vá. Para ele trabalhar em um local desses, precisa ter um mínimo de condição. Precisa ter no mínimo um hospital ou um posto para que ele possa trabalhar. Eu entendo que a falta de médicos nesses locais não vai ser corrigida pela presença do Mais Médicos, e sim se nós fizermos uma carreira nacional do médico, que é o que nós estamos pedindo. A classe médica está pedindo há décadas para que isso seja feito”, defendeu o médico. Confira a entrevista na íntegra no vídeo abaixo.

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