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Pandemia é dinâmica e exige paciência para entender decisões, diz cardiologista

Paciente infectado com coronavírus entubado na Itália

A médica cardiologista Ludhmila Abrahão Hajjar, coordenadora de Ciências, Tecnologista e Inovações da Sociedade Brasileira de Cardiologia, avalia que o sistema precisa se unir para capacitar o máximo de pessoas para atuar no combate ao novo coronavírus.

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Em entrevista ao Jornal da Manhã neste sábado (18), Ludhmila falou sobre o uso da cloroquina e enfatizou que sua eficácia ainda não foi comprovada. A cardiologista destacou que, por se tratar de um vírus novo, as pesquisas sérias que analisam a doença ainda estão em andamento. “A pandemia é dinâmica e exige paciência para entender que haverá oscilações de informações e intervenções.”

Para ela, três etapas devem ser seguidas em conjunto: a busca por um antiviral, como por exemplo os estudos em torno do remdesivir; a busca por anti-inflamatórios que mudam o sistema imunológico do paciente, como os corticoides; e o reforço da estrutura no atendimento rápido de emergências, como a disponibilidade de leitos de UTI e protocolos adequados de atendimento.

“A cloroquina mostraria resultado nas duas primeiras partes, mas isso só foi comprovado in vitro, em laboratório. No homem, que é diferente, ainda não temos estudos respaldados que nos dão segurança para a sua utilização. Em alguns casos, por pressão mundial, foi aprovado o uso monitorado. Mas deve ser esclarecido ao paciente e familiares que ainda não é uma terapia comprovada”, afirmou.

De acordo com ela, ainda não dá para dizer que o uso da cloroquina é eficaz no combate ao coronavírus. “Se hoje ela faz parte do tratamento, seu uso precisa ser feito com responsabilidade. É isso o que adotamos até que tenha ou não a eficácia comprovada”, alertou.

Situação sem precedentes

Ludhmila ressaltou que o Covid-19 não respeita geografia, classe social ou faixa etária — por isso existem relatos de mortes de jovens e até mesmo crianças vítimas da doença — e apresenta uma crise nunca antes vista.

“Estamos vivendo uma situação inusitada, que coloca pressão no sistema de saúde e nos governantes porque causa impactos sociais e econômicos sem precedentes. Diante da emergência, precisamos resolver a vida dos paciente e, na medida do possível, buscar soluções para essas questões.”

“Economia e saúde não deveriam andar juntos, mas o impacto socioeconômico é alto. Ainda mais quando temos uma sociedade em que o trabalho informal e autônomo é alto e o isolamento impossibilita o sustento dessas pessoas. Por outro lado, temos gente em extrema miséria e, por mais que as medidas sejam recomendadas, é impossível seguir. Isso torna a doença ainda mais complexa para o Brasil”, completou a médica.

Isolamento social 

Justamente por se tratar de uma situação nunca antes vista, a cardiologista avaliou como precipitada a previsão de fim definitivo da quarentena em alguns países, principalmente no Brasil.

“Os estatísticos e epidemiologistas estudam o comportamento da doença em outros países e aplicam modelos com taxa de acerto e erro. Isso varia muito de região, de país, das medidas de contenção adotadas, do suporte do sistema de saúde. Não dá para ter uma resposta exata”, disse.

Ludmhila defendeu que os estados e municípios estudem, de forma individualizada e regional, a resposta do novo coronavírus às medidas adotadas nas últimas semanas. “É inviável se basear com estudos de outros lugares. É uma doença nova, um vírus novo, sem tratamento eficaz comprovado.”

Falar em 2021 ou 2022 ainda é muito difícil, mas ela acredita que talvez seja preciso flexibilizar e endurecer as regras da quarentena de tempos em tempos, até que haja controle total da pandemia.

Ela deu como exemplo as cidades de Manaus e Fortaleza, que já estão colapsando. “Como que vão liberar a população e correr risco de sobrecarregar o sistema ainda mais?”, questionou Ludhmila.

De acordo com ela, os estados e municípios devem tomar decisões regionais alinhadas com o governo federal e, conforme seja possível, aumentar o número de testes. Para a cardiologista, só assim seria possível uma flexibilização do isolamento e a retomada de alguns setores ao trabalho.

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