Pandemia e materiais caros deixam Brasil com milhares na fila por cirurgia no coração

Segundo presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, apenas 30% do volume normal das operações de coração são realizadas no país hoje

  • Por Jovem Pan
  • 04/06/2021 10h34 - Atualizado em 04/06/2021 11h32
BRUNO ROCHA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO UTI de hospital Lotação de UTIs por causa da pandemia é um dos motivos para redução das cirurgias

Cirurgião cardiovascular na Santa Casa de Goiânia, o médico Duílio Rezende conta que as cirurgias cardiovasculares no Estado de Goiás não são realizadas há praticamente um mês. “Desde o último dia primeiro de maio que na Santa Casa todas as cirurgias foram suspensas. Não só na Santa Casa, mas em outros serviços de Goiânia também, que realizam os serviços no SUS, também estão parados. Então aqui está um caos. Hoje, no Estado, só tem um hospital que opera cirurgia cardíaca adulta pelo SUS, que é um hospital chamado HUGOL, Hospital de Urgência Governador Otávio Lage”, afirmou. Segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, ao qual a Jovem Pan teve acesso, 27 hospitais em nove Estados brasileiros estão com dificuldades ou até mesmo têm cirurgias cardíacas completamente paradas.

O presidente da entidade, Eduardo Rocha, diz que apenas 30% do volume normal das cirurgias cardiovasculares estão sendo realizadas no Brasil hoje e estima que cerca de 60 mil procedimentos estejam represados, o que causa prejuízo aos pacientes que serão operados em piores condições no futuro. “Você fica adiando, postergando, o coração vai aumentando, vai apresentando complicações da doença ou é operado em uma situação de emergência, o que é um caos, o que aumenta a mortalidade muitíssimo”, afirmou. Entre os motivos para este cenário estão a falta de leitos de UTI (uma vez que muitos estão destinados para Covid) e o aumento no preço de materiais essenciais para operar o coração, como válvula cardíaca e oxigenadores. Esses insumos, que têm matéria prima importada, sofrem com aumento do câmbio.

De acordo com a Associação Brasileira de Dispositivos Médicos (Abimo), a tabela SUS destes itens está defasada e a entidade vem se reunindo com o Ministério da Saúde pedindo reajuste. A última correção seria de 2002. Por telefone, o superintendente da Abimo, Paulo Fraccaro disse à Jovem Pan que pede ao governo pelo menos reajuste de 107% para oxigenadores, cujo custo já subiu mais de 180%. Em nota, o Ministério da Saúde disse que desde 2010 mais de mil procedimentos tiveram seus valores reajustados. Em 2021, até o momento, o reajuste ocorreu em 14 procedimentos. A pasta não informou especificamente, porém, sobre os materiais para cirurgias cardiovasculares.

*Com informações da repórter Carolina Abelin

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