Pesquisa mostra disparidades de expectativa de vida, renda e até acesso à internet em São Paulo
Mapa da Desigualdade 2021 elenca todos os 96 distritos da capital paulista e mostra que moradores do extremo leste chegam a viver 10 anos a menos do que a média da capital
Dados do Mapa da Desigualdade de 2021, realizado pela Rede Nossa São Paulo, foram divulgados nesta sexta-feira, 22. Na fotografia da cidade, todos os 96 distritos aparecem. Diante das diferenças, alguns maus resultados ainda chamam a atenção. Quem reside na Cidade Tiradentes, bairro da zona leste de São Paulo, vive, em média, 22 anos menos que um morador de Alto de Pinheiros, área nobre da zona oeste da capital. Os números mostram a realidade dos extremos da cidade: são 58,3 anos contra 80,9 anos. A média da capital paulista é de 68,2 anos. A relação entre pobreza, localização geográfica e renda manteve-se como em outros anos. Regiões periféricas, em relação às áreas centrais, continuam registrando altos índices de subdesenvolvimento humano e baixo investimento em infra estrutura.
O coordenador do Mapa da Desigualdade, Jorge Abrahão, diz que essa discrepância é consequência de uma somatória de fatores e ressalta a importância do olhar do poder público. “Os lugares que têm os melhores atendimentos de saúde, de educação, de mobilidade, acesso aos transportes de massa, são os lugares onde, via de regra, a renda média é maior. Então existe uma inversão nisso muito clara. A nossa sociedade, digamos assim, está viciada em permanecer com as desigualdades e nós precisamos entender que é um trabalho da gestão pública, que é um entendimento das empresas privadas e da sociedade, que todos temos interesse em uma sociedade mais equilibrada”, afirmou. A pandemia acentuou ainda mais esse contraste. Os óbitos causados pela Covid-19 nos bairros periféricos da zona leste evidenciam esse cenário. Enquanto a média geral de mortes na capital paulista foi de 18,3%, o Parque do Carmo, por exemplo, registrou 23,4 % dos óbitos. O Mapa da Desigualdade traz ainda um retrato do feminicídio.
O destaque negativo ficou com o distrito de Guaianazes, extremo leste. Entre as moradoras do bairro, houve quase 10 vezes mais crimes que a média geral em toda a cidade. A gravidez na adolescência é outro problema social que chama a atenção pelo aumento registrado: 89% entre 2016 e 2020. Quando o assunto é inclusão digital, é possível notar outro triste retrato. O bairro com maior acesso à internet é Itaim Bibi, na zona sul. Situação oposta à vivida pelos moradores de Engenheiro Marsilac, distrito municipal mais longínquo do centro de São Paulo. Jorge Abrahão diz que a falta de infraestrutura na periferia desestimula o investimento por parte das empresas. “As licitações, via de regra, as empresas têm mais interesse de estar colocando antenas nos lugares onde existe mais recursos, então nós tendemos a agravar este problema, porque as empresas querem colocar antenas onde as pessoas supostamente vão trazer mais retorno. Cabe ao poder público fazer a mediação, de que os interesses das empresas tenham mediação com os interesses da sociedade”, afirmou. A consequência imediata está na empregabilidade. A pesquisa mostra que as melhores oportunidades estão na região central. A Sé é o bairro com a maior oferta de emprego, enquanto Iguatemi, distante 38 quilômetros do marco zero, tem a menor taxa de trabalho formal.
*Com informações da repórter Camila Yunes
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