Bolsonaro volta a falar sobre o veto de absorvente para mulheres vulneráveis
Segundo o presidente, se o Congresso derrubar o veto será necessário tirar recursos da saúde e da educação
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a comentar o veto sobre a distribuição gratuita de absorventes para mulheres em situação de pobreza. Ele justificou a medida afirmando que não tem verba para custear o fornecimento do item de higiene e, caso o Congresso derrube o veto, que teria que tirar dinheiro de outro lugar. “Ela bota distribuição gratuita. Não é gratuita. Não é a cegonha que vai levar o negócio pelo Brasil todo. Alguém tem que levar, tem que ter uma logística para isso. O veto é em função disso, como vetei no passado a questão da internet nas escolas, que dava mais de R$ 3 bilhões por ano. Dinheiro de onde? Agora se o Congresso derrubar o veto do absorvente eu vou tirar dinheiro da saúde e da educação. Tem que tirar de alguma lugar”, disse o presidente.
A medida foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) na última quinta-feira e gerou grandes debates acerca do tema. O presidente alega que a despesa custará aos cofres públicos mais de R$ 100 milhões e que o texto não estabelece uma fonte de pagamento e, por isso, ele poderia cometer irresponsabilidade fiscal. A divergência sobre o tema dividiu parlamentares. Pelas redes sociais, a deputada federal Carol de Toni (PSL-SC) se posicionou favorável ao veto e questionou o financiamento da medida afirmando: “Quais impostos vão aumentar pra bancar essa proposta insensata e rejeitada em quase todos os países do mundo? Os impostos sobre os combustíveis? Proponho o seguinte: criar um imposto que apenas os defensores dessa ideia tenham que pagar”. Já a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) criticou a ação do presidente e disse que “ao vetar a distribuição de absorventes às brasileiras mais carentes, Bolsonaro expõe sua falta de empatia e compromisso com as mulheres. Meninas pobres faltam às aulas ou adoecem usando folhas de papel no lugar de absorventes. Mas isso não importa para o presidente sem visão de saúde pública”. O termo pobreza menstrual ganhou destaque nos últimos dias.
Para o Unicef, esse cenário está ligado à falta de recursos, infraestrutura e conhecimento sobre a menstruação. De acordo com a Organização das Nações Unidas, cerca de 25% das meninas entre 12 a 19 anos deixaram de ir à escola alguma vez por não ter absorventes. Muitas mulheres na linha da vulnerabilidade improvisam e usam papéis e miolos de pão como absorventes. No entanto, essas substituições podem causar infecções. A ginecologista Anne Caroline Andrade afirma que a questão sobre pobreza menstrual é um grande problema social. “A gente está englobando um problema muito maior, um problema social mesmo, de saneamento básico, de estrutura, de poder oferecer para essas mulheres o mínimo. Só que as mulheres tem um mínimo a mais do que o homem, elas tem que se preocupar com a menstruação. Então, realmente, isso só torna a desigualdade um pouco maior nessa classe vulnerável. A gente não pode falar que um homem e uma mulher, em situação de pobreza, são iguais. A mulher menstrua e ainda tem que contar com o plus de menstruar e ter um gasto que ela não queria ter”, afirma Andrade. A médica afirma ainda que o poder público precisa reduzir os impostos sobre o absorvente e promover mais campanhas explicativas sobre a menstruação para as adolescentes.
*Com informações da repórter Camila Yunes
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