Preços de alimentos devem cair após fortalecimento da exportação agrícola, diz ex-ministro da Agricultura
Alysson Paulinelli é cotado a receber o prêmio Nobel da Paz por seu trabalho na viabilização da produção agrícola no clima brasileiro, colocando o país na rota para se transformar em um dos maiores produtores do mundo
O Ministério da Agricultura descarta a possibilidade de desabastecimento agrícola no Brasil em 2022. Em entrevista ao Jornal da Manhã, Alysson Paulinelli, que é ex-ministro da Agricultura e cotado para o prêmio Nobel da Paz, por seu trabalho na viabilização da produção agrícola no clima brasileiro, falou sobre o assunto. Além de concordar que não há risco de desabastecimento, Paulinelli também diz que o Brasil é um grande exportador e que, após os principais impactos da pandemia da Covid-19, deverá voltar a comercializar de maneira muito expressiva para todo o mundo. Ainda de acordo com ele, a retomada deverá fazer os preços dos produtos internos caírem, tranquilizando o consumidor brasileiro. Além disso, afirma que o problema que o mundo inteiro enfrenta neste momento seria uma demanda por alimentos maior que a produção, que foi afetada pela crise na saúde pública.
“Não vejo a possibilidade do Brasil ficar sem alimentos, uma crise de desabastecimento. Mas tem um fato que é real: o problema que nós estamos passando com uma demanda muito grande no mundo inteiro. O problema de seca, de enchentes e geadas não foi só no Brasil, ele também se repetiu em outras regiões do globo, países populosos, que também estão com problema de água, como a Índia, a China e alguns países africanos. O Brasil continua produzindo, não só para abastecer a sua população, como também para abastecer cerca de 1 bilhão de pessoas, em 190 países do mundo. Esse é um fato auspicioso. Esta elevação de preço é consequência não só da instabilidade de clima, mas também da pandemia da Covid-19”, afirmou Paulinelli.
Ainda segundo o ex-ministro, o Brasil continua crescendo por estar na única região do globo, a tropical, que permite fazer até três safras por ano. “Nós estamos crescendo a uma velocidade acima de 250 mil hectares por ano. Deveríamos crescer mais (…) O problema maior é esta alta demanda que nós estamos enfrentando no período pós-pandemia. A população mundial está hoje já exigindo uma demanda maior do que aquela que temos. Nós já passamos por isso nas décadas de 1960 e 1970. Foi uma fase muito difícil, nós não tínhamos auto abastecimento, o que é diferente de hoje, e não tínhamos onde comprar o alimento. Importávamos um terço do que consumíamos (…) A família brasileira chegou a consumir metade de sua renda só para pagar alimentação, prejudicando todos os outros itens, desde vestimenta, transporte, moradia, educação, saúde. De 1980 a 2000, o Brasil entrou produzindo e ofertando ao mundo e passou a ser um tradicional exportador de alimentos e o preço caiu significativamente”, lembrou.
Em paralelo com o passado, o ex-ministro diz acredita que algo semelhante deverá ocorrer num futuro breve, com a retomada de um forte comércio internacional de produtos agrícolas, para abastecimento de todo o globo. “Portanto, nós estamos na expectativa, e eu anuncio isso, porque estou vendo que o Brasil vai voltar a crescer, este ano nós deveremos crescer bastante. A oferta interna vai aumentar, mas principalmente a oferta externa, porque o Brasil é hoje o grande player na exportação. E o preço tenderá, daqui por diante, a voltar a patamares mais baixos. Isso é muito importante que o consumidor brasileiro saiba”, pontuou Paulinelli.
Ainda segundo o ex-ministro cotado ao Nobel da Paz, o Brasil deverá se tornar cada vez mais relevante no cenário internacional, devido a sua capacidade de suprir a demanda internacional por alimentos do campo. “Os estudos mostram que daqui a 30 anos, em 2050, o mundo terá uma população próxima a 10 bilhões de pessoas. E os países que mais estão crescendo economicamente no mundo são países populosos, a China, a Índia, Indonésia e o próprio continente africano, onde os seus países populosos estão crescendo duas a três vezes mais do que os países industrializados. A população desses países deverá ter mais recursos e vai querer comprar mais alimentos, melhorando a qualidade da alimentação. Então, haverá, naturalmente, uma tendência de alta de preço (…) E só o Brasil tem condição de atender a isso. Mas o país precisará crescer nesse período acima de 40% para que o mundo não sofra restrições ou passe fome. Os próprios organismos internacionais, a ONU, os bancos mundiais e bancos internacionais, todos eles estão afirmando que o Brasil passou a ser a única garantia de segurança alimentar para o mundo nos próximos 30 anos. Isso passou a ser muito importante para nós”, explicou.
Ainda na entrevista para o Jornal da Manhã, o ex-ministro foi questionado sobre possíveis soluções para as altas de preços dos combustíveis, que, neste sábado, 9, atingiram um novo patamar. Para ele, o Brasil tem capacidade de retomar o caminho das exportações de petróleo, como começou a fazer após a descoberta do pré-sal, mas, acima disso, é importante que o país passe a investir em energia limpa. “O Brasil era dependente e, com a descoberta do pré-sal, temos uma possibilidade de ser também exportadores, como começamos a ser. Entretanto esse material de origem fóssil, como é o petróleo, prejudica o meio ambiente (…) Estamos indo para o carro elétrico, estamos preocupados, porque vamos ter que aumentar a nossa energia, então o Brasil tem que fazer a bioenergia. E ele tem como fazer. Passar para a eletricidade, mas usar uma eletricidade vinda de produto fóssil ou do carvão fica a mesma coisa. Esta também vai ser outra equação na qual o Brasil vai ter uma importância muito grande no futuro”, finalizou.
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