Presidente da Funai chama desaparecimento no Amazonas de ‘evento infeliz’ e critica ‘exploração midiática’

Marcelo Xavier explicou, no entanto, que jornalista Dom Phillips e indigenista Bruno Araújo não tinham autorização da entidade para entrada na região, habitada por indígenas isolados

  • Por Jovem Pan
  • 08/06/2022 11h16 - Atualizado em 08/06/2022 11h17
Reprodução / Jovem Pan News Jornalista desaparecido Segundo Marcelo Xavier, Bruno Araújo estava de licença para assuntos particulares, não atuando a serviço da fundação

A Fundação Nacional do Índio (Funai) ampliou as buscas pelo jornalista inglês Dom Phillips e pelo indigenista Bruno da Cunha Araújo Pereira, funcionário da entidade, desaparecidos desde o domingo, 5, na região do Vale do Javari, na Amazônia. Ao todo, mais de 15 pessoas estão empenhadas nas ações para localização e resgate, que acontecem em conjunto com a Força Nacional de Segurança Pública, Exército, Marinha e a Polícia Federal, em uma área de tamanho equivalente a Portugal, explica Marcelo Xavier, presidente da Funai. Segundo ele,  a região é habitada por aproximadamente 10 mil indígenas de tribos isoladas, faz fronteira com o Peru e sofre “constantes ataques pela influência do narcotráfico dos países vizinhos”. Por isso, é necessária autorização, o que Bruno e Dom não tinham. “Toda entrada em área de indígena isolada tem que passar pelo nosso setor de autorizações e pesquisas. Isso inexistiu. Também não foram cumpridos nenhum dos protocolos”, afirmou, em entrevista ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan News.

Segundo Marcelo Xavier, Bruno Araújo estava de licença para assuntos particulares, não atuando a serviço da fundação. Além disso, o servidor já teria conflitos com a população da região no passado. “Os indígenas tiraram ele a força, são os indígenas matís, isso foi difundido muito na imprensa”, disse.  De acordo com notícia da ONG Conselho Indigenista Missionário, em 2016, lideranças se posicionaram contra o retorno de Bruno da Cunha à Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari. A justificativa é que uma das razões que motivam os conflitos locais são “intervenções desastradas da Funai” e que o servidor já teria criado “problemas com todas as etnias” e uma “relação hostil do povo matís com o referido servidor”. Na ocasião, os indígenas chegaram a ocupar a Coordenação Técnica da Fundação Nacional do Índio – Funai, na cidade de Atalaia do Norte e pediram a exoneração do servidor. 

Sobre o que pode ter acontecido com a dupla, Marcelo Xavier disse que qualquer resposta é “meramente especulativa”, nesse momento. “Não dá para saber, o que dá para falar é que estamos atuando de forma enérgica e em sincronia”, reforçou. Questionado se enxerga uma exploração política do caso, considerando a grande repercussão nacional e internacionalmente, o presidente da entidade concordou e disse considerar “bizarro” o uso do desaparecimento por terceiros. “Percebo sim [uma exploração política do episódio]. E acho que é bizarro esse tipo de exploração midiática de um evento infeliz como esse, que é o desaparecimento de duas pessoas. Estamos atuando efetivamente para a localização. […] As pessoas sabem do risco e insistem em ir lá, sabendo desses riscos. O que cabe fazer é atuar para tentar localizar essas pessoas e deixar bem claro que as pessoas que pretendem ir em áreas de indígenas isolados, que peçam autorização.”

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