Reoneração dos combustíveis pode significar mais inflação, alertam economistas

Anúncio da volta de impostos que estavam zerados para a gasolina e etanol foi feito nesta semana pelo Governo Federal à reboque do fim de uma medida provisória que, desde o ano passado, mantinha zerada a alíquota dos impostos federais sobre os combustíveis

  • Por Jovem Pan
  • 02/03/2023 07h12
Romildo Jesus/Futura Press/Estadão Conteúdo - 06/03/2022 Frentista, cujo rosto não aparece, fica perto de carro prata enquanto o tanque é abastecido Alta dos combustíveis pode puxar o avanço da inflação

Economistas e especialistas ouvidos pela reportagem da Jovem Pan News têm feito cálculos e revendo para cima as projeções de inflação para 2023 por conta da reoneração dos combustíveis. O anúncio da volta de impostos que estavam zerados para a gasolina e etanol foi feito nesta semana pelo Governo Federal à reboque do fim de uma medida provisória que, desde o ano passado, mantinha zerada a alíquota de PIS, Confins e Cide para os combustíveis. O economista chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes, até então apostava em uma inflação para este ano da ordem de 6,2%, bem acima do teto da meta. O centro da meta está em 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 p.p para cima ou para baixo. Agora, com a reoneração a pressão sobre os preços para o consumidor é inevitável, segundo Bentes: “Os combustíveis, ao sofrerem essa reoneração, por serem os itens com maior peso na composição do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), vão fazer com que a atividade econômica desacelere, dado que os juros já estão em um patamar elevado e isso deve fazer também com que as expectativas quanto a inflação deste ano continuem sendo reajustadas para cima”.

A desoneração de impostos sobre os combustíveis foi uma estratégia usada pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) para conter a alta de preços, juntamente com o teto do ICMS para combustíveis, telecomunicações, energia e transportes. Estas medidas contribuíram para controlar a inflação brasileira em 2022. Ainda assim, ela ficou fora do teto da meta. O economista do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getúlio Vargas, André Braz, aposta na possibilidade de um novo estouro da meta em 2023, com inflação na casa dos 5,8%: “Essa reoneração, se acontecer de maneira integral para a gasolina, combustível que compromete em média 5% do orçamento familiar, ela deve provocar um aumento de aproximadamente 15% desse combustível na bomba, porque vai gerar um impacto no IPCA de março de 0,75%. Se essa reoneração for parcial, de apenas 75% nos impostos federais zerados até agora, o impacto na bomba deve ser de um aumento de 10% para a gasolina, o que deve fazer com que o IPCA avance 0,5% em março”.

Recentemente houve uma espécie de onda de críticas e ataques de dentro do governo contra a manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 13,75%. O alvo principal era o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e chegou-se até a cogitar a possibilidade de elevar o centro da meta de inflação para 2023, mas a ideia foi abortada temporariamente. Uma nova reunião do Conselho Monetário Nacional, que trata do assunto, está programada para acontecer em meados de 2023 e pode alterar a meta. Fazem parte do conselho o presidente do BC, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra do Planejamento, Simone Tebet.

*Com informações do repórter Rodrigo Viga

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