No STF, ex-diretor do Inpe rebate críticas a trabalho de monitoramento
Ricardo Galvão lamentou o excesso de negativas sobre as mudanças climáticas; ele foi exonerado no ano passado pelo presidente Jair Bolsonaro depois da divulgação de dados sobre o desmatamento
Em audiência no Supremo Tribunal Federal (STF), especialistas em clima reiteraram que o aquecimento global deve transcender a política e nortear medidas de proteção a florestas. Pelo segundo dia consecutivo, o Supremo foi palco das discussões, em meio às queimadas no Pantanal e desmatamento na Amazônia. A tecnologia é apontada como fundamental para monitorar a ação humana nas áreas verdes. Na opinião do professor do Instituto de Engenharia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP), Ricardo Abramovay, é preciso superar visões equivocadas sobre o tema. “O Brasil e a Indonésia são os únicos dois países do mundo em que praticamente metade das emissões de gases efeito estufa derivam de desmatamento. Por essa visão de que estrangeiros estariam querendo explorar as riquezas em nosso lugares, por essa visão absurdas, ONGs e comunidades indígenas são vistas como forças aliadas desses interesses estrangeiros”, afirma. Ele lembrou que metade da Amazônia brasileira está em áreas protegidas.
O economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, avaliou que o agronegócio corre risco se o desmatamento não for contido. “Eliminar o desmatamento ilegal já seria uma boa, não há duvida quanto a isso. Mas penso que deveríamos ir além desse passo que é obrigatório. O desmatamento e os outros crimes ambientais, além de agravarem o problema global, trazem enorme risco para o ecossistema do agronegócio e também para a oferta de energia em nosso país”, diz. Armínio Fraga acrescentou que o Brasil precisa buscar metas ambiciosas em favor da preservação ambiental. Na mesma ocasião, o ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Ricardo Galvão, lamentou o excesso de negativas sobre as mudanças climáticas. “Os modelos climáticos evoluíram muito nas últimas duas décadas, em função das críticas feitas dentro do método científico. Mas realço que não há nenhum resultado sólido que possa ser testado independentemente que comprove a não existência do efeito antrópico no aquecimento global”, disse. Ricardo Galvão também rebateu os críticos ao trabalho de monitoramento feito pelo instituto. O especialista foi exonerado no ano passado pelo presidente Jair Bolsonaro depois da divulgação de dados sobre o desmatamento. No fim da audiência, o ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, defendeu que a proteção ambiental não é escolha política, mas sim um dever constitucional. O objetivo da reunião era apresentar os fatos e as diferentes expectativas envolvidas.
*Com informações da repórter Hanna Beltrão
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