Aproximação entre EUA e Coreia do Norte interessa todo mundo, diz especialista

  • Por Jovem Pan
  • 10/05/2018 15h54
Agência EFE "Se voltarmos a um mês atrás, todos achavam que teríamos uma 3ª guerra mundial e que ela estava prestes a acontecer. Isso é uma reversão da expectativa", afirma professor Marcos Vinícius

Nesta quinta-feira (10), o presidente norte-americano Donald Trump anunciou que seu histórico encontro com Kim Jong-un, líder da Coreia do Norte, acontecerá no próximo dia 12 de junho, em Cingapura. O anúncio aconteceu horas depois de Trump receber  três americanos que estavam detidos na Coreia do Norte e que foram libertados na quarta-feira, ato interpretado pela Casa Branca como gesto de boa vontade relacionado ao encontro.

“É um sinal muito positivo porque era algo inesperado. Se voltarmos a um mês atrás, todos achavam que teríamos uma 3ª guerra mundial e que ela estava prestes a acontecer. Isso é uma reversão da expectativa, que tem um lado positivo: interessa para todo mundo. Interessa aos EUA, pois Trump consegue consolidar um processo de paz que todos achavam que ele não ia conseguir, interessa à China, pois uma guerra traria um impacto negativo ao crescimento da Ásia, favorece a Coreia do Sul e o Japão, que se livram de um grande problema, e a própria Coreia do Norte, pois Kim Jong Un sai dessa história como um grande estrategista”, afirmou Marcos Vinícius de Freitas, professor de Relações Internacionais na FAAP, em entrevista exclusiva à Jovem Pan.

A situação chegou a um desfecho após intensa conversa entre os dois lados, boas e ruins, que aproximaram as duas nações. Apesar disso, Marcos Vinícius apontou a participação da china como um fator relevante para a conclusão positiva da história.

“Trump sempre foi muito direto ao dizer que a Coreia do Norte era um problema da China. O que ele fez foi justamente exercer pressão sobre o governo chinês para que eles forçassem a Coreia na busca por uma solução. Muitas vezes, uma postura mais dura pode ter um resultado mais satisfatório. Um bom exemplo é o que aconteceu com o presidente Reagan em relação a união Soviética. Uma postura mais intensa, que levou a URSS ao colapso. Então, o que vimos no Trump é mais ou menos essa postura mais dura, que teve um impacto positivo”, afirmou o professor.

Questionado sobre a diferença de postura por parte de Trump no tratamento com a Coreia do Norte e o Irã, ele apontou que os momentos vividos pelos dois países eram diferentes e exigiam abordagens distintas: “é importante que o Irã não tenha a bomba. Se tiver, será um problema enorme na região com relação ao balanço de poder. Já a Coreia do Norte passou despercebida durante o governo de Obama. Kim Jong-un não chegou ao conhecimento da bomba justamente agora, foi um processo de evolução. Então, são momentos diferentes, que passam a seguinte mensagem: se você já tem essas bombas, a gente pode negociar. Se não tem, nós vamos ter que dar uma cacetada mais forte”.

Por fim, o professor ainda avaliou a possibilidade de uma “volta atrás” por parte dos norte-coreanos e se a aproximação com os EUA poderia resultar em um processo ainda maior de abertura da economia do país. Segundo ele, Kim Jong-un se movimentou para tentar aliviar as sanções ao país o mais rápido possível para evitar que sua ditadura sofresse um colapso.

“Toda ditadura cai na hora que começa a faltar comida na mesa do povo. É nesse momento que as pessoas se lembram da política. O colapso da União Soviética foi por um problema de economia. Então, o Kim Jong- un tinha esse fator histórico, que a economia do país, em razão das sanções, está em uma situação difícil e ele seria a próxima carta a ser descartada”, ressaltou.

“Agora, sobre o processo de abertura, não interessa, nem ao Japão e nem a China, uma Coreia unificada. Os chineses não iriam querer que o sistema econômico escolhido fosse o da Coreia do Sul, que é parceira dos EUA. Já os japoneses têm um histórico de guerras com a Coreia. Então, não interessa para nenhum dos dois. Agora, o modelo que o Kim Jong-un pode utilizar é exatamente o modelo chinês. A china não deixou de ser comunista. Eles têm um socialismo de mercado, mas o estado ainda é o grande julgador em toda situação. Então, o grande modelo para a Coreia do Norte seria o da China”, finalizou.

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