Roberto Azevêdo detalha saída da OMC: ‘Ficar não resolveria nada’

Segundo diretor, a organização tem atuado de ‘maneira muito devagar’

  • Por Jovem Pan
  • 18/05/2020 16h09 - Atualizado em 19/05/2020 08h04
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EFE EFE Azevêdo vai deixar a OMC em 31 de agosto, um ano antes do fim do seu mandato

Em entrevista ao Jornal Jovem Pan nesta segunda-feira (18), o diretor-chefe da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, detalhou os motivos pelos quais decidiu deixar o órgão em 31 de agosto, um ano antes do fim do seu mandato. Segundo ele, “ficar não resolveria nada e não melhoraria a situação”.

“A OMC vem respondendo [as questões do comércio internacional] de uma maneira razoável nos últimos anos, mas, principalmente nos últimos tempos, de uma maneira muito devagar. Isso vem sido discutido pelos membros”, afirmou. “Ainda falta muita coisa para fazer, as negociações precisam acontecer de forma mais rápida e isso é muito difícil quando você precisa de unanimidade”, continuou.

Além disso, Azevêdo explicou que em junho de 2021 vai ocorrer a conferência ministerial, e que a data conflitaria com seu processo de sucessão, que aconteceria entre janeiro e maio do ano que vem. “Os dois ao mesmo tempo seria um golpe fatal. Como eu não posso mudar a data da reunião ministerial, decidi que, antecipando a minha saída, dou chance para o próximo preparar a reunião ministerial e a reforma da OMC. Ficar atrapalharia.”

Recentemente, os ministros do Comércio dos países integrantes do G20 lançaram um pacote de medidas de curto e longo prazo para minimizar os efeitos da pandemia da Covid-19, entre elas, a reforma na OMC.

Crise

Azevêdo disse, também, que a organização prevê uma queda muito grande do comércio internacional por causa da pandemia do novo coronavírus. Em um “cenário otimista”, seria comparável à crise de 2008, mas pode chegar até mesmo a índices próximos aos da Grande Depressão dos anos 30.

Para ele, o cenário já estava conturbado mesmo antes da Covid-19, com as tensões comerciais entre Estados Unidos e China, restrições e tarifas na economia mundial. “Com a pandemia isso só se agravou. É um cenário muito complicado, de mudanças estruturais, é difícil prever até onde nós vamos”, afirmou.

No entanto, o diplomata acredita que a recuperação pode ser relativamente rápida se a pandemia não se prolongar durante muito tempo e se as medidas de retomada resultarem em “um estímulo eficaz”. Azevêdo aponta para a necessidade de diversificar as cadeias produtivas dos países e reduzir as dependências uns dos outros.

De acordo com ele, a tendência será de buscar autossuficiência, trazer a produção para dentro das fronteiras. Entretanto, na visão do diretor-chefe, isso não resolveria o problema da vulnerabilidade.

“Como há riscos, há oportunidades. Se o Brasil se colocar como uma plataforma de exportação e se posicionar melhor nessas cadeias de produção, pode ter uma oportunidade que não existia antes.”

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