‘O autoritarismo está muito mais presente no atual governo’, diz Ilona Szabó

Em entrevista ao Morning Show, cientista política critica decisões da gestão Bolsonaro e alerta para uma possível ‘linha vermelha’ na democracia

  • Por Jovem Pan
  • 27/10/2020 12h44 - Atualizado em 27/10/2020 12h49
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Divulgação/Instituto Igarapé Ilona Szabó, fundadora do Instituto Igarapé fala ao microfone A autora de "A defesa do espaço cívico" criticou a gestão Bolsonaro em entrevista ao Morning Show

Em entrevista ao programa Morning Show nesta terça-feira, 27, a cientista política e diretora executiva do Instituto Igarapé, Ilona Szabó, comparou a realidade política brasileira a pontos levantados em “A defesa do espaço cívico”, seu novo livro que coloca no centro do debate as maneiras pelas quais o estado destrói o espaço cívico. Durante a conversa, a autora destacou o populismo e o autoritarismo como peças chave neste processo. “Governos populistas autoritários têm a missão de instituir uma verdade absoluta, excluindo a sociedade do debate sobre as políticas públicas. Geralmente, podemos enxergar este caráter nos ataques à imprensa, às instituições como o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) e, principalmente, aos atores que participam do espaço cívico, ou seja, do espaço que se localiza entre o estado, a família e os negócios, onde os cidadãos se organizam, debatem e agem para influenciar os rumos do país”. A autora afirma que é fácil perceber a presença destas peças no curso da história do Brasil. “Quando olhamos nosso país, vemos traços populistas em diversos líderes, incluindo Lula e Bolsonaro. No entanto, o autoritarismo está muito mais presente no atual governo.”

Para reforçar a questão, Ilona lembrou um episódio “muito violento” que passou durante a gestão Bolsonaro, quando foi nomeada, em 2019, para atuar no Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária do Ministério da Justiça. “Trabalho há quase 20 anos na sociedade civil, já participei de muitos desses conselhos. Faz parte do meu trabalho criar uma interlocução com o governo para monitorar as políticas públicas, ajudar com conhecimento e informação. No dia em que fui nomeada, houve uma enorme reação negativa nas redes sociais, lançaram até a #Ilonanão. Com toda essa repercussão, Bolsonaro pediu para que o então ministro Sergio Moro revogasse minha nomeação. Acho que o presidente tinha coisa melhor para fazer, mas estava preocupado com as minhas ideias”, afirmou.

Após a situação, a autora alegou que precisou deixar o país já que sofria muitas ameaças. “Senti um impacto real, comecei não só a receber ameaças virtuais, mas também chegavam em meu e-mail pessoal ou em formas de recado para que eu parasse de falar ou me opor ao governo publicamente. Não tinha a quem recorrer. Me preocupava com a segurança da minha filha e da minha equipe”. Apesar das críticas à atual gestão, ela reforça que jamais adotou uma posição política. “Acreditem, minha agenda sempre foi muito aberta. Nunca tive adesão a um ou outro governo, sempre trabalhei com políticas públicas e me sentei com quem quer que fosse à mesa. Posso dizer que há vários atos autoritários neste governo, como rechaçar o financiamento para a área cultural, atacar grupos da sociedade civil e, no que diz respeito, até mesmo, à acusação sobre a interferência do presidente na Polícia Federal que, se comprovada, configura uma linha vermelha gravíssima na democracia”. Além de pontuar atuais capítulos da política nacional, Ilona também comentou sobre o futuro. “Espero continuar fazendo o meu trabalho porque quero melhorar o país e viver em um Brasil seguro, mais humano e eficiente para todos. Espero que no futuro possamos voltar a ter um país onde a construção é feita pelo diálogo.”

Confira a entrevista com Ilona Szabó:

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