Substituto de Deltan diz que quer ampliar Lava Jato e elogia neutralidade de Moro
Alessandro de Oliveira assumiu a força-tarefa nesta quarta-feira, após saída de Dallagnol para se dedicar à família; ‘há forte tendência de manter muito do legado que ele deixou’, disse
O procurador Alessandro de Oliveira, que substituiu Deltan Dallagnol na coordenação da Operação Lava Jato em Curitiba, afirmou nesta quarta-feira, 2, em entrevista ao programa Os Pingos nos Is, da Jovem Pan, que a intenção é ampliar a estrutura e os integrantes da operação. Ontem, em decisão liminar (provisória), a subprocuradora-geral da República Maria Caetana Cintra Santos, integrante do Conselho Superior do Ministério Público Federal, determinou a prorrogação por mais um ano dos trabalhos da força-tarefa em Curitiba. “Há um limite entre o mínimo necessário e as condições que podem ser oferecidas, anida mais neste ano com a pandemia. As atividades e tarefas têm material suficiente para muitas Operações Lava Jato e uma ampliação ainda maior do número de integrantes. Podemos direcionar para que a prorrogação permaneça e seja ampliada”, disse Oliveira.
No entanto, o procurador ressaltou que assumiu as funções hoje, e ainda está se adaptando com a situação. Segundo ele, existe uma decisão coletiva para selecionar, de maneira objetiva, algumas prioridades, mas não sabe dizer quais. “Ainda estou tomando ciência de toda a situação”, afirmou. Oliveira foi o único a demonstrar interesse na função, após Deltan comunicar a saída para se dedicar à família, principalmente aos cuidados com a filha, que apresenta sinais de regressão no desenvolvimento. Houve alguns rumores de que Dallagnol teria saído por interferências do procurador-geral da República, Augusto Aras, o que foi negado pelo procurador. “O PGR não faria nenhuma interferência e nem o fez, e se tivesse feito tanto eu quanto o Deltan não teríamos aceito”, esclareceu.
‘Moro sempre teve postura neutra e imparcial’
O novo coordenador da Lava Jato ainda elogiou o trabalho do ex-juiz Sergio Moro e do procurador Deltan Dallagnol. “Tive a oportunidade de trabalhar em dezenas de operações com o Moro e sempre vi nele uma postura absolutamente neutra, imparcial, um contato limitado ao estritamente profissional com os procuradores. Nunca vislumbrei qualquer atitude que pudesse afetar essa neutralidade judicial, baseada em um conhecimento técnico e profundo sobre crimes contra o colarinho branco. A minha referência é essa, nunca houve uma vírgula qualquer de parcialidade, muito pelo contrário, sempre mostrou ser um juiz neutro nas causas em que atuou”, afirmou. No último dia 25, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que Moro foi parcial no processo que julgou o doleiro Paulo Roberto Krug por crimes financeiros no caso antigo Banco do Estado do Paraná (Banestado) e, por isso, anulou a condenação.
Já em relação ao procurador, Oliveira disse que “admira o trabalho dele” e que “há uma forte tendência de manter muito do legado que ele deixou”. Entretanto, afirmou que algumas mudanças pontuais devem acontecer, já que cada um tem a sua forma de trabalhar. Ainda no final de agosto, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) arquivou a denúncia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra o procurador da República Deltan Dallagnol e outros integrantes da Lava Jato sobre a apresentação de powerpoint que apontava o petista como líder de uma organização criminosa. Oito dos 10 conselheiros votaram pelo arquivamento da medida diante da prescrição dos fatos, apesar de reconhecerem que havia indícios para que o procurador fosse alvo de ação disciplinar.
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