‘Fui interceptado pelo Talibã e achei que não tinha escapatória’, diz Roberto Cabrini

Em entrevista ao Pânico, o jornalista explicou que escapou do fuzilamento após ‘convencer’ os terroristas de que estava perdido

  • Por Jovem Pan
  • 01/12/2020 15h33
Imagem: Reprodução/Pânico Em entrevista ao programa Pânico, Cabrini comentou os segredos do 'bom jornalismo'

Em entrevista ao programa Pânico desta terça-feira, 1º, o jornalista Roberto Cabrini revelou os bastidores e segredos envolvidos na produção de grandes reportagens. Especialista em jornalismo investigativo e coberturas internacionais, Cabrini afirmou que sempre deixa uma mala montada dentro de seu carro. “Costumo deixar uma mochila pronta no porta-malas, assim estou preparado para, em caso de qualquer imprevisto, ir direto para o aeroporto. Se eu não fizer desta forma, não consigo manter um programa de grandes reportagens com credibilidade e competitividade. Preciso dar um crivo na relevância e outro na popularidade. O segredo de uma grande investigação é sempre obedecer o direito máximo ao contraditório. Todas as pessoas devem ser ouvidas, inclusive as que você não concorda. Elas também têm o direito de expressar suas opiniões. Devemos buscar multidimensionar as investigações, analisando todos os pontos e incoerências que são apresentados”, disse.

Durante conversa, o jornalista lembrou as situações mais perigosas que já se envolveu enquanto exercia a profissão. “Uma vez cobri a ascenção do Talibã no Afeganistão. Eu era o único repórter da América Latina e, junto com o cinegrafista, fazia uma cobertura bastante ousada. Através de um atalho, conseguimos entrar em uma vila Persa que estava sendo totalmente dizimada como consequência de ter fornecido comida aos inimigos do Talibã. Nos escondemos e filmamos pessoas sendo mortas e crianças sendo trucidadas. Na saída, fomos interceptados pelo Talibã. Naquele momento pensei que não tinha escapatória”. Apesar de conhecer poucas palavras no idioma afegão, Cabrini conseguiu expressar que fazia parte da imprensa brasileira e os convenceu de que estava perdido. “Eles aceitaram a minha desculpa e pediram para olhar a câmera. Graças a Deus, eles entendiam pouquíssimo de tecnologia e não conseguiram apagar as imagens. Inclusive, gravamos um pouco deste momento quando pensamos que seríamos fuzilados”. Além da passagem pelo Afeganistão, ele recordou a arriscada viagem que fez à Somália. “Talvez tenha sido o lugar mais perigoso que eu já fui. Ali, as crianças ficam com armas nas ruas e têm sede de puxar o gatilho. Então, existiam crianças que, se eu desse um sorriso e elas não gostassem, atiravam mesmo. Muitas vezes pensei que não iríamos sobreviver”, afirmou.

Com mais de 30 anos de carreira, Roberto Cabrini não deve deixar a profissão tão cedo. Considerando o cenário político do Brasil, ele analisou que deve ser desenvolvida uma profunda investigação sobre o processo eleitoral. “A grande investigação que precisa ser feita neste momento aprofunda na questão da credibilidade do voto. Até agora, todas as investigações feitas foram contaminadas pela ideologização. O jornalismo mundial está sofrendo a ditadura das redações, o que não pode acontecer. Minha opinião é irrelevante para a informação. O objetivo do jornalismo não é fazer com que as pessoas pensem de uma maneira pré-definida, mas apresentar os fatos para fomentar o debate e fazer com que o público tire suas próprias conclusões”. Após 11 anos de carreira no SBT, o jornalista deixou a emissora e estreiou, no último mês, o comando do programa “Domingo Espetacular” na Record TV.

Confira a entrevista com o jornalista Roberto Cabrini:

 

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.