‘O grande serial killer brasileiro é o PM’, diz Roger Franchini

Em entrevista ao Pânico, o ex-investigador apontou a violência policial como um dos maiores problemas da segurança pública brasileira

  • Por Jovem Pan
  • 08/12/2020 15h25 - Atualizado em 08/12/2020 15h41
Imagem: Reprodução/Pânico Durante a conversa no programa Pânico, o escritor explicou o funcionamento da facção criminosa PCC

Em entrevista ao programa Pânico, da Jovem Pan, nesta terça-feira, 8, o escritor Roger Franchini lembrou seus anos de atuação como investigador de polícia para traçar um diagnóstico da segurança pública no Brasil. “Nosso grande problema relacionado à segurança pública brasileira é a questão da autorização velada que os governos concedem aos agentes de segurança. O PM se sente autorizado pelo próprio Comando a limpar as ruas usando uma violência ilegal. Sendo assim, o grande ‘serial killer’ do Brasil é o policial militar que não tem empatia nenhuma com as pessoas que moram em periferias e que não se sente mal ao chegar dando tapas nas caras dos indivíduos, não reconhecendo nos outros seres humanos suas mesmas condições de humanidade”. Apesar das críticas, ele considera a polícia brasileira uma das melhores do mundo. “Quando nossos agentes são cobrados, eles agem muito bem. O problema está em quem e por qual motivo são cobrados. Em alguns casos pontuais, por exemplo, quando o governo se sente ameaçado ou a imprensa é enfática, nossa polícia atua como uma instituição europeia. No entanto, estes casos são exceções. Falhamos na regra, nos tratamentos dados aos pequenos furtos de semáforo, aos latrocínios e outras contravenções que ocorrem todos os dias”, disse.

Além do excesso de violência, Franchini atribuiu a ascensão de facções à engrenagem construída para sustentar a atuação criminosa. “A sociedade tende a enxergar o PCC como uma empresa ou uma máfia hierarquizada, mas não é tão simples assim. Deveríamos encarar a organização criminosa como uma grande franquia constituída por células que se auto sustentam, unidas por um vínculo de lealdade. Parte delas vende a mão de obra para que as outras possam cometer os crimes. Atualmente, a polícia pode eliminar qualquer uma dessas células que o PCC continuará existindo de forma fantástica porque é uma cadeia muito complexa”. Ele também explicou que o mercado mais lucrativo para o PCC não está no Brasil, mas na Europa. “Eles criaram uma forte parceria com a máfia europeia e, por isso, traficam a maior parte das drogas para o continente europeu. A maioria destas substâncias saí do Brasil através do Porto de Santos, em São Paulo”.

Considerando as dificuldades que encontrou atuando como investigador da Polícia Civil, o autor de grandes obras como “Ponto Quarenta – a Polícia Civil de São Paulo para leigos” e “Richthofen – o assassinato dos pais de Suzane”, afirmou que produz uma literatura política. “Em todos os meus livros, coloco nas bocas dos investigadores a angústia de se enxergarem pressionados pelo governo e pela sociedade. Sendo assim, a grande motivação dos meus personagens não é resolver os crimes, mas conseguir sobreviver dentro do inferno apresentado pela realidade da segurança pública”, concluiu.

Confira a entrevista com o escritor Roger Franchini:

 

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