Pingo Final: Cunha é solução para crise econômica, política e de confiança

  • Por Jovem Pan
  • 21/07/2015 11h26
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BRASÍLIA, DF, 15.04.2015: GOVERNO-CARGOS - O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), durante sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, para votação do Projeto de Emenda à Constituição (PEC) da redução dos ministérios, de autoria do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB RJ). (Foto: Beto Barata/Folhapress) Folhapress Líder do PT na Câmara

Meu pingo final vai para José Guimarães, líder do governo na Câmara. Ah, as tramas da linguagem, não é mesmo? Guimarães (PT-CE), sentindo-se forte o bastante para propor a paz, resolveu apelar a uma imagem de guerra e, referindo-se, ainda que de modo indireto, ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou que o governo pretende estender a bandeira da paz. Disse:

“Nesses momentos de tensão, sempre é bom estender a bandeira da paz, a bandeira branca. E nós vamos estender a bandeira mais uma vez para o Congresso, que foi isso que estabeleceu as vitórias que tivemos aqui. É um novo momento do país. O tensionamento vem das ruas, vem do Congresso, vem de todas as partes. É normal. Todo mundo tem que ter responsabilidade com o país. Ninguém quer tocar fogo no país”.

Essa linguagem bélico-apocalíptica merece tradução. Se o governo diz que vai estender a bandeira da paz, então é sinal de que se admite em guerra, certo? Mas guerra exatamente contra quem? Contra o Congresso como um todo? Contra Eduardo Cunha em particular? O presidente da Câmara imediatamente rebateu. Disse não ser necessária bandeira nenhuma porque ele não está armado com fuzil.

Mas sigamos com Guimarães. Quando ele diz que ninguém quer botar fogo no país, está a dizer que… há gente querendo botar fogo no país. É mesmo? Quem e por quê? A resposta é simples. Isso traduz a qualidade do debate interno do PT. Pedir o cumprimento das leis — o que pode resultar, sim, na cassação do mandato de Dilma — seria  sinônimo de incêndio. Essa linguagem, de aparente apelo à paz, é puro terrorismo político.

De certo modo, não deixa de ser uma sorte Dilma ter um adversário como o presidente da Câmara, que setores ditos “progressistas” da imprensa adoram odiar. Serve para disfarçar a falta de agenda. Vamos pensar: qual é a responsabilidade de Cunha na crise econômica? Zero! Qual é a responsabilidade de Cunha na crise de confiança? Zero! Qual é a responsabilidade de Cunha na crise política? Zero também! Eu diria que ele só assumiu o perfil que tem — de verdugo do governo — como consequência de uma crise política que já estava dada.

Façamos um exercício. Imaginem um cenário sem Cunha. Digamos que ele fizesse a vontade de seus adversários e renunciasse não só à Presidência da Câmara, mas também ao mandato, retirando-se da política. Que influência isso teria na ordem das coisas? Resposta: zero de novo! Ao contrário até.

Quem quer que circule um pouco pelo país real, que converse com pessoas, que dialogue com empresários dos mais variados setores, bem, essa pessoa terá a chance de constatar que Cunha vinha sendo visto mais como um fator de esperança para o setor produtivo, por exemplo, do que o contrário. Os tolos se fixam apenas na tal agenda de costumes que dizem “conservadora”. Mas ele vinha acenando com mais do que isso.

Essa conversa de bandeira branca é bobagem. É coisa de governo sem agenda, que hoje luta apenas para não cair. O diabo é que ainda restam três anos e meio de mandato. Pra quê? Pra estender mais bandeiras brancas. Ou seja: pra nada.

Já citei o poema aqui uma vez e o faço de novo. Chama-se “À espera dos bárbaros”, do excelente Constantino Káfavis (1863-1933). Já falei sobre ele num http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/espera-dos-barbaros-poema/. O texto segue abaixo. Cunha é, para Dilma, o que eram os bárbaros para os romanos no poema de Kafávis: uma espécie de solução. Por quê? Ela pode usá-lo como bode expiatório de sua própria incompetência. Segue o magnífico texto, na tradução de José Paulo Paes.

 

O que esperamos na ágora reunidos?

É que os bárbaros chegam hoje.

Por que tanta apatia no senado? Os senadores não legislam mais?

É que os bárbaros chegam hoje. Que leis hão de fazer os senadores? Os bárbaros que chegam as farão.

Por que o imperador se ergueu tão cedo e de coroa solene se assentou em seu trono, à porta magna da cidade?

É que os bárbaros chegam hoje. O nosso imperador conta saudar o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe um pergaminho no qual estão escritos muitos nomes e títulos.

Por que hoje os dois cônsules e os pretores usam togas de púrpura, bordadas, e pulseiras com grandes ametistas e anéis com tais brilhantes e esmeraldas? Por que hoje empunham bastões tão preciosos de ouro e prata finamente cravejados?

É que os bárbaros chegam hoje, tais coisas os deslumbram.

Por que não vêm os dignos oradores derramar o seu verbo como sempre?

É que os bárbaros chegam hoje e aborrecem arengas, eloquências.

 Por que subitamente esta inquietude? (Que seriedade nas fisionomias!) Por que tão rápido as ruas se esvaziam e todos voltam para casa preocupados?

Porque é já noite, os bárbaros não vêm e gente recém-chegada das fronteiras diz que não há mais bárbaros.

Sem bárbaros o que será de nós? Ah! eles eram uma solução.

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