‘BBB’ é programa em que reina inveja, ódio, traição, e a novidade agora é o cancelamento

Reality show é lastimável, só de intrigas, onde todos são inimigos, mas fazem de conta que não; a ordem é manobrar um contra o outro ou formar grupinhos que se digladiam sem parar

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 03/02/2021 12h41 - Atualizado em 03/02/2021 12h54
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TV Globo/Reprodução Participantes discutem durante o "Big Brother Brasil 21"

Foi aquela choradeira de sempre. Tudo igual aos anos anteriores. Fulminada no chamado paredão, a participante se retira do “BBB21” e leva sua amargura numa bolsa de angústias e raiva também. Afinal, essa é a fórmula do programa que faz sucesso há muitos anos, e há muitos anos significa uma aula diária de mau-caratismo. São todos inimigos cordiais. Aquela babação toda trocada entre os participantes é apenas uma farsa de verniz. Nunca assisti a um “BBB” inteiro. Por dever de ofício, cheguei a acompanhar alguns deles por uma semana para escrever aqui mesmo na Jovem Pan. E só nesta semana deu bem para compreender qual é a proposta desse programa da Rede Globo, sobre o qual sempre repito: a proposta é escândalo, sexo, bebida, mau-caratismo e coisas afins. Não se aproveita nada, a exemplo do que se vê em “A Fazenda”, da Record, que segue à risca o roteiro da Globo. Só muda o lugar. Mas me lembro que, em anos anteriores, quando era obrigado a assistir, incomodava-me ver aquelas moças descaradamente disponíveis para qualquer negócio, mesmo com câmeras de televisão registrando tudo. Isso marcou muito. As mulheres disponíveis, tipo aquela Emilly, que venceu o “Big Brother” e engatou um namoro com um sujeito desprezível, que chegou a ser expulso sob a acusação de agredi-la ao vivo. Ela saiu gritando da casa, dizendo-se milionária, uma figura intragável e ambiciosa. Fazia qualquer coisa em busca do prêmio. Onde está Emilly? Claro, não vamos exigir que todo “BBB” revele uma atriz exuberante como Grazi Massafera, que namorou um dos participantes. Ou revele uma apresentadora como Sabrina Sato, que marcou presença no “Pânico”, da Jovem Pan, sempre dando a impressão de que não sabia o que fazer da vida senão sorrir. Sabrina também namorou um boboca no programa. Ele sumiu do mapa.

Já nos episódios iniciais desta edição, pode-se notar essa proposta que quase sempre termina em promiscuidade. O “BBB” é um programa em que reina a inveja, a raiva, o ódio e a traição. Uma aula completa de destruição de todos os valores humanos. E há, agora, a novidade do cancelamento, em que um aponta o erro do outro. Não se entende como algo assim pode ser jogado no ar num tempo de profunda tristeza e desencanto, como se tudo estivesse normal. Ainda não foram iniciadas aquelas cenas dos edredons. Ainda não. Mas não vai demorar. E aí começará também um período promíscuo que irá até o final, quando será apresentado o grande campeão da insensatez. O participante que chama mais atenção é o Fiuk, filho do cantor Fábio Júnior. Até chega a ser estimado por alguns dentro da casa, mas outros procuram se afastar e até evitam conversar com ele. É o protagonista do “BBB21”, o que, na verdade, não significa nada. Protagonizar uma festa de mediocridades não parece ser grande coisa. Mas ele é mesmo o mais conhecido e já vem causando alguns estragos no coração de muita gente, especialmente entre os que assistem ao programa. Ao contrário do que muitos pensam, Fiuk, que é cantor e ator, não é filho da atriz Gloria Pires, mas somente de Fábio, fruto de um outro casamento. Com roupas extravagantes, como as que usa fora do “BBB”, o rapaz tem se imposto naturalmente no programa como a maior atração, o que já está gerando comentários entre alguns participantes que começam a cercar seus passos. Por enquanto, o ator e cantor é uma figura intocável. Pelo menos é o que se vê até agora. É mesmo uma figura diferenciada no meio de pessoas que não se mostraram ainda por inteiro. Seja como for, Fiuk não está no lugar certo. Sinaliza que não leva a própria carreira a sério.

Na primeira festa do “BBB-21”, na sexta-feira, 29, surgiram os primeiros indícios da baixaria futura. À medida em que a bebida era consumida, os ânimos foram se alterando. Isso praticamente a noite inteira, fazendo com que alguns participantes mostrassem a cara. Um deles chegou a sugerir que se eliminassem todos os brancos, para a disputa ficar só entre os negros. Com propostas assim, desta vez o programa promete cenas não muito agradáveis para os tempos atuais. Não pode existir algo mais medíocre que essa atração amada e odiada por tanta gente, uma fábrica de alienação de pessoas que estão distantes de tudo, inclusive da própria realidade pessoal. Todos fingem. No fundo, todos são inimigos. Cabem aqui os versos de Vinicius de Moraes do seu “Samba da Bênção”: “Feito essa gente que anda por aí brincando com a vida. Cuidado, companheiro, a vida é pra valer!”. E ainda: “A vida não é brincadeira, amigo. A vida é a arte do encontro embora haja tantos desencontros pela vida”! O poeta tem razão nesse samba feito com Toquinho, que representa uma prece, daquelas orações feitas como final de tudo. Mas misturar Vinícius neste espetáculo de egoísmo representa uma covardia.

O programa é lastimável, dia e noite, a qualquer hora, só de intrigas. Todos são inimigos, mas fazem de conta que não. A ordem é manobrar um contra o outro ou formar grupinhos que se digladiam sem parar. E, ao mesmo tempo, todos são bonzinhos, figuras exemplares. Afinal, essa é a glória da TV brasileira. Programas assim, no final, revelam a cara do Brasil. De gente dissimulada e esperta. A esperteza é tudo. É um período em que vale qualquer coisa para prejudicar o outro. Mas, antes de tudo, uma universidade em que se aprende a ser mau-caráter. E nisso, muitos já são diplomados.

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