Bolsonaro não demonstra humanismo em nenhuma situação, nem em relação à vacina contra a Covid-19
Em live, presidente usou expressões depreciativas para se referir a Doria; tom foi amenizado em pronunciamento, em que chegou a dizer que se solidarizava com as famílias em luto
Não pode ser feliz em um país que vive em guerra o tempo todo, um país que politiza todas as situações. Não pode ser feliz em um país que dá vazão às intrigas cada vez mais mordazes. Não se pode ser feliz em um país em que o ataque ao outro é sempre feito em termos de insulto. Ninguém mede as palavras que servem, até mesmo para a noite de Natal, quando a população está recolhida na sua crença e nos seus costumes. A ordem no Brasil parece ser essa, a desunião e a falta de harmonia. Mais uma vez o presidente Jair Bolsonaro faz questão de colocar em dúvida a eficácia das vacinas criadas por vários laboratórios do mundo, especialmente as que serão aplicadas no Brasil. É mesmo um homem em “que sensibilidade é coisa de maricas”. Um homem que, infelizmente, não demonstra humanismo em nenhuma situação. Na live que costuma fazer todas as quintas-feiras, nesta última, 24, véspera do Natal, Bolsonaro disse que não aceitará uma vacina que não esteja devidamente aprovada. “Não vou me responsabilizar”, disse ele, sempre colocando em dúvida o poder da vacina no enfrentamento à Covid-19. Observou que pode ser que não aconteça nada de ruim com ninguém, mas deixando claro que não se responsabilizará por nada que diga respeito à vacinação. Bolsonaro insiste: as pessoas que vão tomar a vacina têm que assinar um termo de responsabilidade.
Parece que o presidente da República, insensível ao que está acontecendo no mundo e no Brasil, tem um gosto especial de demonstrar um lado do qual ele parece orgulhar-se, que é ser até grosseiro diante de uma situação tão grave e delicada. O presidente aproveitou a live para atacar duramente e até com deboche o governador de São Paulo, João Doria, e também para defender o armamento da população. Para ele, todo mundo tem de andar armado. Disse textualmente que deseja o povo bem armado, arrematando que, “com o povo armado acaba essa brincadeirinha de que vai ficar todo mundo em casa que eu vou passar uns dias em Miami”. Referia-se ao governador João Doria que, numa recaída, decidiu viajar para Miami com os números da Covid em São Paulo cada vez mais sombrios. Ao saber que o vice-governador Rodrigo Garcia estava com a doença, Doria voltou e num vídeo
pediu desculpas à população. Por esse episódio Bolsonaro afirmou: “Pelo amor de Deus! Oh… calcinha apertada!”. E afirmou que “isso não é coisa de homem, fechar São Paulo e ir passear em Miami. É coisa de quem tem calcinha apertada. Isso é um crime”. Não se sabe o que significa chamar alguém de “calcinha apertada”. Mas sabe-se que a expressão deve ser bastante depreciativa, certamente até mesmo incluindo a condição sexual da pessoa agredida verbalmente.
A raiva e deboche da live foram amenizados no pronunciamento que Bolsonaro fez à Nação, ao lado de sua mulher Michele, na noite de Natal. Chegou a dizer que se solidarizava com as famílias em luto por parentes que morreram por causa do coronavírus. “Externo meus sentimentos, pedindo a Deus que conforte os corações de todos”, disse Bolsonaro. Mas me atrevo a dizer, pessoalmente, que não acredito nessas palavras, ditas sem a convicção e emoção necessárias para uma situação assim. No fim de tudo, todas essas cenas são lamentáveis num país cada vez mais carente em suas necessidades mais básicas. É a isso que a politização de quase tudo levou o país. Por esse motivo, o Brasil vive uma circunstância cada vez mais adversa e dolorosa. O vírus foi politizado, a doença foi politizada, a pandemia, até as mais de 190 mil mortes, e agora chegou a vez da vacina. A vacina parece ser um ponto de honra para os contendores de uma guerra que o Brasil quer distância. Não é disso que o país necessita. O Brasil necessita de paz. O pior é que essas agressões são feitas de maneira inconsequente, como se estivessem todos num bar jogando bilhar. Não se compreende mesmo. O Brasil está fadado a não ter paz. Até porque a paz custa caro para alguns indivíduos que deveriam se comportar à altura dos cargos que ocupam. E isso não acontece porque a campanha da eleição presidencial de 2022 já começou há algum tempo.
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