Bolsonaro tem certeza de que os militares estarão ao seu lado contra Lula e o PT

Imprensa tem dado pouca atenção, mas presidente da República está certo de que terá o apoio das Forças Armadas nas eleições de 2022; o que quer dizer o capitão nas entrelinhas?

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 09/06/2021 12h37 - Atualizado em 09/06/2021 12h46
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Marcos Corrêa/PR - 11/05/2021 Em pé, sorridente e com a mão no ombro do comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira, Jair Bolsonaro fala com oficiais durante visita à instalação militar O presidente Jair Bolsonaro visita as instalações do Exército

Há determinados assuntos sérios que, muitas vezes, passam despercebidos pela imprensa. No máximo, merecem uma pequena nota e vão para o esquecimento. Não se fala mais no assunto. É o que aconteceu recentemente com um discurso do presidente Bolsonaro, durante almoço com oficiais das Forças Armadas no Amazonas, que plantou interrogações na cabeça de muita gente (pelo menos naqueles que ainda conseguem pensar nessa balbúrdia em que se transformou o país). Mas a palavra de um presidente da República sempre será uma palavra documental. Não pode ser jogada no esquecimento, como ocorreu. Foi exatamente no dia 27 de maio, uma quinta feira. Uma declaração séria. Hoje as palavras têm várias interpretações. Uma pior que a outra. Isso é fruto da desarmonia em que o país está mergulhado. O capitão começou a falar sobre as eleição presidenciais de 2022, sugerindo que os militares ficarão ao seu lado. Basta analisar o que aconteceu no Brasil nos últimos 20 anos, recomendou.

Bolsonaro observou que os militares são “seres políticos” e que o futuro do país depende deles. Não depende de mais ninguém, apenas dos militares. Daí repetiu que a o Exército, a Marinha e a Aviação estarão ao seu lado, analisando a vida do país nos últimos 20 anos, a maior parte sob a administração do PT. O presidente referiu-se à polarização e não foi genérico, dirigiu-se diretamente aos militares, adiantando que, depois de uma análise das últimas duas décadas, as Forças Armadas não vão errar em 2022. Bolsonaro acredita que as eleições presidenciais serão decididas entre ele e o ex-presidiário Luiz Inácio da Silva, a quem, dias antes, tinha chamado de “bandido que tem um dedo a menos”. Um ladrão de nove dedos. Também chamou o rival de “filho do capeta”. Nessa ocasião, afirmou que se Lula voltar a dirigir o país, nunca mais deixará o poder. Na sua live dessa mesma quinta-feira, 27 de maio, imitando a voz do petista, o presidente voltou a chamá-lo de ladrão, afirmando que não falará mais seu nome. Só vai tratá-lo por “ladrão”.

Olhando firmes nos olhos dos oficiais militares, Bolsonaro disse que o Brasil quer paz, progresso e, acima de tudo, liberdade. E é exatamente o item “liberdade” que passa pelas Forças Armadas, compete a elas, como em qualquer outro país do mundo, decidir como o povo vai viver. O presidente explicou que trata-se de uma missão dada por Deus e por isso é preciso aproveitá-la, no bom sentido. Essa conversa aconteceu em São Gabriel da Cachoeira, para onde o presidente viajou acompanhado do ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, e do comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. No seu discurso, o presidente lembrou as conversas frequentes que tem com Braga Netto sobre a situação do país e foi claro: os militares podem ser necessários para assegurar o retorno à normalidade. Observou que, mais do que uma obrigação, por dever, as Forças Armadas atuarão dentro das quatro linhas da Constituição, se for necessário. Bolsonaro explicou que o país está distante da realidade, mas ninguém poderá acusá-lo de não ser um democrata.

Na mesma quinta-feira, o governador de São Paulo, João Doria, usou a rede social para comentar a fala do presidente. E escreveu como se não bastasse a incompetência generalizada do seu governo desastroso, Bolsonaro volta a ameaçar a democracia no Brasil, acrescendo que, no entanto, essa índole autoritária tem o repúdio dos brasileiros de bem que condenam a tentativa de violar a Constituição. Doria concluiu sua mensagem contundente, dizendo: “Cala-te, Bolsonaro!”. Esse episódio foi noticiado, digamos, de maneira normal. Não mereceu muita importância. Ou parece não ter merecido. No entanto, as palavras do presidente provocam muitas interrogações nas poucas cabeças pensantes no país. Bolsonaro estaria anunciando alguma medida drástica, dizendo contar com a ajuda das Forças Armadas? Um enfrentamento decisivo aos adversários da esquerda, a quem ele chama de “canalhada”? Esse discurso de Bolsonaro guarda muitos mistérios. Basta ler com atenção.

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