Enquanto Bolsonaro não se curva diante da pandemia, brasileiros ficam de joelhos por um leito de UTI
Com mortes por Covid-19 batendo recorde nas últimas semanas e hospitais à beira do colapso, o presidente Jair Bolsonaro apenas diz que ‘a saúde no Brasil sempre teve seus problemas’
Os fatos ocorridos neste final de semana na pandemia são assustadores. As mortes se multiplicaram e a falta de leitos e UTIs chegou ao limite. Há quem fale em um colapso nacional do sistema de saúde no Brasil. Pior é que as pessoas ficam perdidas diante de tanta gente falando a respeito, todos “especializados” em um assunto ainda não completamente conhecido pela própria ciência. E diante desse cenário de horrores, falta-nos uma liderança para lidar com o problema de gravidade absoluta. No entanto, o temor da população aumenta cada vez mais, diante da palavra oficial do país, que se mostra distante dessa angústia de todos os dias. Afinal, é para fazer o quê? Que rumo tomar nesta tragédia brasileira da pandemia? Ouvir quem? Acreditar em quem? Bolsonaro diz em discursos inflamados que o brasileiro quer trabalhar e que ninguém mais aguenta ficar em casa. Quer que abra tudo, é contra o distanciamento social, contra a máscara, contra tudo que diz respeito ao vírus, mas não percebe que se abrir tudo, em pouco tempo só haverá gente doente sem trabalho e sem festa. E não haverá hospitais e leitos suficientes para atendimento de tanta gente. Então o destino é morrer dentro de casa ou na rua? É só abrir tudo, como deseja o presidente.
Diante desse cenário desolador, o neurocientista Miguel Nicolelis pergunta: Qual é o valor da vida no Brasil? E mais: Que valor os políticos dão à vida do cidadão se não fecham as atividades num lugar com 100% dos leitos ocupados? Quem vai responder? Os novos “especialistas” em pandemia que estão falando em todo lugar? Como diz o neurocientista e professor catedrático na Universidade de Duke, nos Estados Unidos, em entrevista ao jornal O Globo, do Rio de Janeiro, na sexta-feira, 26, ter que preservar a economia não é só uma falsidade econômica, como demonstra completa falta de empatia com a vida das pessoas. Nicolelis se diz assustado especialmente com o pouco valor que atualmente se dá à vida das pessoas no Brasil. Na verdade, o que vem ocorrendo é de uma irresponsabilidade inaceitável, principalmente as aglomerações promovidas por insanos. Se não dão valor à própria vida não se discute, mas levam o vírus para casa e acabam matando o pai, a mãe, a irmã, o avô, a tia. É assim que funciona, embora haja resistência a esta afirmação pelos grandes “especialistas” da imprensa, especialmente, no que diz respeito à pandemia, seguindo cegamente os ensinamentos do Planalto. Miguel Nicolelis repete o que se fala em todo lugar, no idioma brasileiro, aquele bem chulo, que em 2022 vai haver carnaval. Ele acha que ao andar da carruagem, até 2022 o número de mortos no Brasil poderá duplicar. É muita irresponsabilidade no trato da doença e o exemplo vem de cima com uma arrogância que só cabe na caixa onde se guardam grandes inutilidades.
O neurocientista da Universidade de Duke observa que o agravamento da pandemia do Covid-19 vem levando os sistemas hospitalares de vários Estados ao colapso completo, de Norte ao Sul do país. Ele diz que o que está se vendo agora é ainda resultado das festas de fim de ano e do Carnaval que não houve oficialmente, mas as aglomerações ocorreram em milhares de locais no país. O resultado é esse. O número de mortes aumentando e o atendimento hospitalar sem condições de atender os doentes. Nicolelis adianta que está vendo em tudo isso um colapso nacional, atingindo seriamente grande número de capitais. “Se eliminar o genocídio indígena e a escravidão, é a maior tragédia do Brasil”, diz ele. Afirma, ainda, que isto tudo representa uma guerra e critica a falta de comando do governo federal e parte da própria sociedade que parece ignorar a doença em favor de uma balada. É o caminho do colapso total. Com essa conduta do país, não pode ser diferente. Já o diretor executivo de emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mike Ryan, declarou na sexta-feira, 26, que o Brasil vive uma tragédia com uma nova onda da Covid-19. Ryan elogia a qualidade do sistema público de saúde do Brasil e a ação dos Estados tentando evitar a alta transmissão do coronavírus, observando ser necessário enfrentar essa transmissão em nível comunitário. Assinala que o que está ocorrendo no Brasil atualmente deve servir de exemplo para o mundo e comprova que a pandemia não acabou, está mais agressiva que nunca. Qualquer relaxamento é perigoso.
Coincidentemente, nesse mesmo dia em que o diretor da OMS fez essas declarações, sexta-feira, 26, o presidente Jair Bolsonaro em discurso no Ceará, na cidade de Tinguá, criticou os Estados que estão adotando medidas mais rígidas para restringir a circulação de pessoas. De acordo com Bolsonaro, esses Estados estão na contramão naquilo que o povo quer. Na última quinta-feira, 25, o Brasil registrou um recorde no número de mortes desde o início da pandemia, com 1.582 novos óbitos. E de lá para cá, esse número tem pequenas variações. O pior é que a pandemia se transformou numa questão ideológica, acertando em cheio especialmente a imprensa, em que os “grandes especialistas” na matéria falam sem parar, como numa torcida pela doença, mandando tudo para o vinagre. É algo que impressiona. Resta dizer o seguinte, para completar este quadro deprimente: neste domingo, 28, Bolsonaro afirmou que a situação atual não é motivo para fechar o comércio. Não é motivo para fechar nada. Diante do recorde no número de mortos e da ameaça do colapso do sistema de saúde em todo o país, o presidente comenta apenas que “a saúde no Brasil sempre teve seus problemas”. Escreveu nas redes sociais que o “ficar em casa” representará desemprego em massa com consequências danosas para todo o país. Bolsonaro não se curva. As maiores autoridades científicas do mundo estão alertando o governo federal para um colapso nacional no sistema de saúde e ele se mantém intransigente, o único governante do mundo a agir assim, como o dono da verdade a dano de um povo que não sabe mais a quem recorrer. No início da pandemia, Bolsonaro pensava que era Deus, hoje ele tem certeza.
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