Guedes diz que Brasil vai dançar; país vem dançando há muito tempo, ministro

No fundo, o ministro da Economia é engraçado; ele compara a política internacional a uma festa em que o Brasil chegou atrasado

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 09/11/2020 13h31
Wilson Dias/Agência Brasil Ministro da Economia em evento público Após a eleição nos EUA, Guedes disse esperar que a relação do Brasil com os Estados Unidos não mude

Uma frase do ministro da Economia Paulo Guedes é bastante significativa para situar melhor o momento atual. Diante da eleição de Joe Biden nos Estados Unidos, Guedes afirmou: “O Brasil vai dançar com todo mundo”. Na verdade, o Brasil vem dançando há muito tempo, ministro. Especialmente porque, quase sempre, é governado por políticos inescrupulosos. Vejam bem essa questão de Bolsonaro se negar a cumprimentar Joe Biden. Chega a ser ridículo. Que Nicolás Maduro, da Venezuela, não cumprimente Biden até se compreende. Mas Bolsonaro, não. Não cabe na cabeça de ninguém. Não cumprimenta por quê? Porque seu herói foi derrotado? É demais. Os Estados Unidos, a nação mais poderosa do mundo. No entanto, o retrato é esse que se vê. Melancólico. Mais poderosa do mundo, mas que um só homem consegue desestabilizar tudo com algumas manobras seguidas de ameaças. Afinal, se perdeu a eleição, o que Donald Trump vai fazer? Vai se negar a deixar o governo? Vai declarar uma guerra? Vai explodir um foguete?

Fora isso, que papel ridículo faz o presidente Jair Bolsonaro em não cumprimentar Joe Biden como o novo presidente norte-americano. Na verdade, Bolsonaro era um servil de Trump. É absolutamente ridículo. A truculência é uma doença contagiosa. Aqui no Brasil, a truculência está em moda. E diante desse quadro que já se transformou em um grande circo, o Brasil anda meio sem saber o que fazer da vida. E só faz o que não deve. Culpados são aqueles que pensam que as coisas se resolvem no grito. Nós já nos acostumamos com isso. Já o ministro Paulo Guedes, da Economia, está meio com o pé atrás. Afirma que ainda não se sabe bem o que de fato acontece nos Estados Unidos. Fala, sem muita convicção, que a dinâmica do crescimento – no linguajar dele – não será afetada. Que crescimento, cara pálida? Guedes quer que o governo brasileiro não superestime o fator político da vitória de Joe Biden. O senhor que pensa, ministro! No fundo, o senhor sabe que não é bem assim. Sua frase mais correta para isso tudo é: “O Brasil vai dançar como todo mundo”. É, ministro Paulo Guedes, o senhor disse isso, sim. Mas o senhor emendou rápido: “Vai dançar, mas continuará trabalhando”. E isso independentemente do resultado final da eleição norte-americana.

No fundo, o ministro da Economia Paulo Guedes é engraçado. Ele compara a política internacional a uma festa em que o Brasil chegou atrasado. Aliás, ministro, entre nós aqui, o Brasil está sempre atrasado em tudo. Paulo Guedes falou assim: “Vamos dançar como todo mundo, porque chegamos atrasados na festa. Também não vamos superestimar o fator político porque ele não é para ser superestimado. A dinâmica de crescimento do Brasil depende de nós”. Uma frase bonita. Seria até aplaudida numa reunião entre amigos. Guedes observa que o Brasil continuará trabalhando com todo mundo. O ministro garante que o Brasil depende de si mesmo para retomar a economia, “e não das relações com parceiros comerciais ou das oscilações do cenário global”.

O problema é que desde o início de seu mandato, o presidente Jair Bolsonaro fez de tudo para se aproximar de Donald Trump. Uma coisa que chegou na linha da humilhação. Bolsonaro vinha rebatendo as críticas que Joe Biden faz às queimadas na Amazônia que, vergonhosamente, aumentam cada vez mais. E Biden não escondeu de ninguém quando falou em retaliação ao Brasil por causa do meio ambiente. Não se sabe exatamente por que Bolsonaro afirmou que “Donald Trump não é a pessoa mais importante do mundo”. Mudou de ideia? Até pouco tempo era, sim, a pessoa mais importante e poderosa do mundo inteiro. O que deu na cabeça de Bolsonaro para fazer essa afirmação? Tudo indica que o ministro Paulo Guedes quer ficar distante dessa discussão. Guedes quer manter alguns dos estímulos criados durante a pandemia para ajudar na retomada do crescimento: “O desafio agora é garantir que medidas como o auxílio emergencial mantenham o efeito sobre a atividade econômica sem impactar de forma mais permanente a inflação”, diz ele. Para Paulo Guedes, esse esforço objetiva transformar essa recuperação cíclica em operações de investimentos. O desafio é esse. Guedes assegura que o governo já está trabalhando nisso com afinco: “Estamos trabalhando para impedir que os efeitos sobre a inflação se perpetuem. Queremos garantir que os efeitos sobre a atividade econômica se sustentem”. É bom trabalhar mesmo, ministro. É bom trabalhar. Só não se sabe se vale mesmo a pena trabalhar para um governo que pensa poder mandar em tudo à sua maneira. Não manda, não. O melhor de um governo é quando o governante de fato governa.

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