Moro começa a assustar, e é bom que seja assim

Ex-ministro da Justiça tem uma aceitação impossível de negar e vai se firmando como a terceira via para a eleição presidencial de 2022

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 06/12/2021 12h49 - Atualizado em 06/12/2021 12h49
Cláudio Reis/Enquadrar/Estadão Conteúdo - 25/11/2021 De máscara, com o microfone do Jovem Pan à sua frente (do lado esquerdo), Sergio Moro dá entrevista a jornalistas Sergio Moro em entrevista coletiva após filiação ao Podemos

A situação é a seguinte: Luiz Inácio da Silva (PT) ataca Bolsonaro (PL). Bolsonaro ataca o ex-juiz Sergio Moro (Podemos). E o ex-juiz ataca os dois. Hoje o cenário é esse, com Moro crescendo nas pesquisas que estão sendo realizadas e se firmando como a terceira via para a eleição presidencial de 2022. Para desespero de alguns e alegria de outros, Moro começa a ter uma aceitação impossível de negar. Por enquanto, o ex-juiz e ex-ministro da Justiça continua trilhando seu caminho com alguma timidez, mas já está cercado por gente experiente no assunto, a começar pelo ex-presidente do Banco Central, Affonso Celso Pastore, uma espécie de conselheiro. Sergio Moro parece já acostumado com as críticas duras que vem recebendo. Não responde a nenhuma. Prefere ignorá-las.

Agora, Sergio Moro planeja para janeiro de 2022 uma viagem ao Nordeste, para cativar o reduto que sempre pertenceu a Luiz Inácio. Moro sabe que essa viagem será um teste importante. Inicialmente, pensa em passar pela Bahia e depois pelo Ceará. Luiz Inácio faz de conta que não está preocupado com essa viagem e com o crescimento de Moro nas pesquisas de intenção de voto. Como é de seu feitio, considera-se imbatível nas eleições de 2022. Não tem adversário, seja o atual presidente Jair Bolsonaro ou o ex-juiz. As más línguas dizem que Lula já está até formando o seu ministério.

Sergio Moro é aquele candidato que começa a comer pelas beiradas. A próxima pesquisa já virá com uma preferência marcada em dois dígitos. E dizem que o número vai surpreender muita gente, especialmente o governo. Então a ordem agora é atacar Moro. E isso fica com Bolsonaro. Lula não quer se meter nisso. Prefere mesmo atacar Bolsonaro, chamando-o de “grosso, grosseiro, uma anomalia política”. E até explica: “Sabem o que é anomalia? Anomalia é aquilo que nem devia existir”. E vai levando essa ladainha para as plateias favoráveis, sempre favoráveis, às quais faz seus discursos com a certeza do aplauso.

Também o governador de São Paulo, João Doria, está interessado em se reunir com Moro. E diz textualmente que deseja fazer uma aliança com o ex-juiz. Doria adianta que essa união é possível, até porque sempre teve com Moro uma boa relação, além do respeito. Doria observa que Sergio Moro ajudou o Brasil por meio da Lava Jato, que levou para a cadeia corruptos que nunca imaginaram que pudessem um dia habitar uma cela num presídio; caso de Luiz Inácio, por exemplo, que sempre se colocou acima do bem e do mal e que, pelo poder, traiu a própria vida. Doria observa que tem de haver um nome de consenso, mas que não seja escolhido pelos resultados das pesquisas eleitorais.

Em outras palavras, é o seguinte: Doria quer falar com o centrão inteiro e os demais pré-candidatos para encontrar um nome para ser a terceira via, desde que o nome seja o dele. Sergio Moro só observa e se mostra aberto a conversar com quem desejar. Ocorre que nesse quesito, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), derrotado por Doria na prévia do partido, já se reuniu com Sergio Moro neste sábado, 4. Um encontro em Porto Alegre em que os dois “discutiram o desafio de construir um Brasil justo para todos, com o combate às desigualdades sociais e recuperação da economia”, conforme nota que divulgaram.

Ao mesmo tempo, o nome de Sergio Moro cresce cada vez mais em aprovação nas redes sociais. Ele tem uma atuação recente nesse universo digital. Até pouco tempo atrás, Moro sequer tinha presença online. Por exemplo: abriu uma conta no Instagram em janeiro de 2020, onde soma quase 3 milhões de seguidores. A campanha digital, no entanto, será uma outra fase que já está sendo planejada. O crescimento da figura de Sergio Moro tem deixado muita gente de mau humor. Na sua live da semana passada, por exemplo, o presidente Bolsonaro avaliou o comportamento de Moro como pré-candidato, dizendo que ele age como um palhaço, sem caráter e como um mentiroso deslavado. Na verdade, Moro começa a assustar. É bom que seja assim. O Brasil já cansou completamente de determinadas figuras escabrosas que andam por aí. Uma mudança não fará mal a ninguém. E é necessária.

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