Não adiantou nada Lula e Ciro se acertarem, já que pensam como se vivessem no século 18

Estão felizes da vida, pelo menos alguém é feliz neste país; só que tem uma coisa: os dois estão de namoro firme, mas não mudaram suas opiniões divergentes sobre a política nacional

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 10/11/2020 12h00
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Roberto Casimiro/Estadão Conteúdo Ciro Gomes de mão levantada e sorrindo Ciro Gomes disse que ele e Lula lavaram a roupa suja 'para valer' em encontro em São Paulo

Gosto de coisas ridículas. O ridículo consegue explicar melhor determinadas situações e principalmente o comportamento de caras que são ridículos por natureza. Quando se é ridículo por natureza, não tem jeito. Aí é o retrato perfeito da falta de vergonha na cara e coisas assim. Por exemplo: Ciro Gomes e Luis Inácio da Silva são dois sujeitos ridículos. Eles passam o tempo um xingando a mãe do outro e, de repente, conforme a situação, acertam os ponteiros um com o outro. Melhor dizendo, eles afirmam que acertaram os ponteiros, mas, no fundo, o que um quer é f**** o outro em grande estilo. Mas vejam que os dois indivíduos se “acertaram” de novo. Estão noivos outra vez. Só falta marcar a data do casamento.

Ciro Gomes, do PDT, afirmou que lavou a roupa suja com o ex-presidente que, aliás, nunca teve uma postura reservada a um ex-presidente da República. Existe um certo respeito aí. Não é função, mas trata-se de um ex-presidente, e isso não é para qualquer um. Mas vamos ao que interessa: Lula e Ciro Gomes fizeram as pazes mais uma vez. Estão felizes da vida. Pelo menos alguém é feliz neste país. Só que tem uma coisa: os dois estão de namoro firme, mas não mudaram suas opiniões divergentes sobre a política nacional. Isso talvez não represente nada, até porque o Brasil não tem política nacional, tem baderna de interesses e coisas afins. Vejam que palavras bonitas do Ciro Gomes: “Tivemos uma conversa muito franca mesmo. Para usar uma expressão popular, lavamos a roupa suja para valer. Sobre o ponto de vista das compreensões da questão brasileira para trás e para frente, continuamos como estávamos”. Quer dizer, não adiantou nada lavar roupa suja, já que os dois pensam como se vivessem no século 18. Seja como for, Ciro Gomes observou que ele e Lula são bastante experientes e vividos. Conhecem tudo do Brasil. Todos os problemas, todas as soluções. Ciro afirmou que o que está em jogo no Brasil é uma disputa de hegemonia: “Eu quero que essa hegemonia seja arbitrada pelo conjunto da sociedade brasileira, não em gabinetes, jogadinhas, donos da bola, culto à personalidade. Sobre isso, continuo com a mesma opinião”. Legal. Vocês notaram o verbo: “Eu quero”. É, não é brincadeira: “Eu quero…”.

Surpreendentemente, Ciro Gomes defendeu um campo mais moderado contra o presidente Jair Bolsonaro. Mas, logo a seguir, disse que as eleições municipais de domingo caminham para uma derrota do “bolsonarismo boçal” e o “lulopetismo corrompido”. É uma no cravo e outra na ferradura: “Parece que o bolsanorismo boçal e o lulopetismo corrompido vão levar uma grande surra no Brasil inteiro. Parece, ao preço de hoje. Isso quer dizer que surgiu organicamente um novo campo? Não, quer dizer que o eleitorado brasileiro está banindo esses dois extremos”, afirma Ciro Gomes, como se estivesse dando uma aula a crianças do jardim da infância. Lula e Ciro estavam rompidos desde 2018. O encontro entre os dois foi articulado pelo governador do Ceará, Camilo Santana, que é correligionário de Lula e aliados dos Ferreiras Gomes, o Cid e o Ciro. Essa reaproximação tem tudo a ver com 2022. A reunião foi realizada no Instituto Lula, em São Paulo. Sabe-se que, na ocasião, Lula se queixou muito dos ataques que vinha sofrendo de Ciro Gomes. Coisa pesada mesmo. Mas os dois se deram as mãos e só faltou beijo na boca.

Por muitas vezes, Ciro se referia a Lula e ao PT dizendo “picaretas do lulopetismo bandido”, afirmando que Lula era um “enganador profissional”. Lula se queixou. E Ciro disse que isso é coisa do passado. O marqueteiro João Santana, aquele, se interessou pela história e afirmou que uma chapa formada com Lula e Ciro será imbatível. E já começou a falar por aí sobre essa possibilidade. Desde que Lula seja o vice. No entanto, o próprio marqueteiro adianta que Lula não aceita fazer o papel de vice com ninguém. Se aceitasse – segundo o marqueteiro – a chapa seria imbatível. Os dois poderiam imitar a solução encontrada na Argentina, quando Cristina Kirchner foi a vice de Alberto Fernandez, “uma solução eleitoral genial”, conforme assegura João Santana. O PT não gostou dessa reaproximação. A presidente nacional do partido, deputada federal Gleisi Hoffmann, fala o seguinte: “O Lula é um homem generoso, de coração grande”.  O outro nem pensar. Gleisi exige que Ciro Gomes torne públicos seus pedidos de desculpas por tudo que tem falado de Lula e do PT. Principalmente de Lula. Ciro Gomes ficou na dele. E Lula, agora, com seu enorme coração, coloca o nome de Ciro como presidenciável em 2022. E garante que as diferenças entre eles foram pontuais. Que beleza! Que civilidade! Que cavalheirismo! Vamos ver quanto tempo essa pândega vai durar.

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