No futebol feminino, que tanto combate o preconceito, jogadora destila ódio contra Paulo Gustavo

Criticada até por atletas do seu clube, o Palmeiras, Chu Santos pede ‘perdão’ usando linguagem dos becos; gente que põe religião em tudo nem sempre prima pela dignidade

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 14/05/2021 13h56 - Atualizado em 14/05/2021 14h01
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Fabio Menotti/Palmeiras - 27/02/2021 De camisa do Palmeiras, a atacante Chu Santos fala em entrevista coletiva Chu Santos, jogadora do Palmeiras e da seleção brasileira, se retratou após ofender Paulo Gustavo

Difere muito o comportamento das pessoas diante de alguns fatos. Isso pôde se ver em fato recente. E é sempre bom voltar a assuntos assim. Infelizmente, algumas condutas são chocantes porque, no fundo, podem revelar também o caráter que representa a carteira de identidade de uma vida. Foi espantoso o que afirmou a jogadora de futebol feminino, integrante da seleção brasileira, Chu Santos, que joga no Palmeiras, diante da morte do ator e humorista Paulo Gustavo, que causou comoção no país e virou assunto internacional pelo talento que se perdia e por ser ele uma pessoa especialmente generosa e solidária. Pouco mais de um mês antes, faleceu também o pastor e cantor gospel Irmão Lázaro, da igreja à qual pertence a jogadora. Ela usou as redes sociais com um palavreado desprezível, o que mostrou um espírito ligado a um ódio que, certamente, nunca mais deixará esse país, feito quase que somente de insensatez.

Chu Santos inicialmente foi criticada duramente pelas demais jogadoras do Palmeiras, enquanto o post que escreveu virilizava nas redes sociais. Enquanto o país rendia a Paulo Gustavo todo tipo de homenagem, por ter sido a pessoa que foi (a face de um Brasil novo), as palavras da jogadora representavam um abismo na alma de determinadas pessoas. Convém usar aspas para melhor explicar o que escreveu a jogadora no último dia 8: “Beleza, morreram pelo mesmo vírus, a diferença é que o Lázaro foi para o céu, e o Paulo Gustavo, para o inferno”. Exatamente isso. Precisa ter muito ódio, especialmente porque pessoas assim ficam o tempo todo falando em Deus e religião, em bondades, em bem-aventuranças e coisas semelhantes. Só falam. E falam em todo lugar. O evangelho entra em qualquer conversa. Parecem pessoas abençoadas por um Deus que ninguém conhece, sempre com a Bíblia nas mãos.

Diante da grande repercussão dessas palavras de insulto e da reação das próprias companheiras, Chu resolveu pedir desculpas pela mesma rede social. Desculpas não, pediu perdão. E na mensagem de “perdão”, utilizou aquela linguagem dos becos, dos balcões dos bares, aquelas palavras igualmente desprezíveis para o assunto. Ele deu um título à sua mensagem, dizendo que não vinha só pedir desculpas, mas perdão a todos. A mensagem começa assim: “Fala, galera. Aqui quem está falando é a Chu Santos”. Ok. Era a Chu Santos que estava falando. E a seguir, explicou que da mesma maneira com que teve peito para comentar no Facebook a morte Paulo Gustavo, também tinha peito, cara, coragem e caráter para pedir desculpas. Prometeu que episódio assim não vai acontecer mais. Afirmou que teve um impulso e por isso escreveu aquela mensagem sobre Paulo Gustavo no inferno. Foi somente um impulso que acabou gerando tanto comentário. Então, ela pedia desculpas “à galera” se suas palavras não agradaram. E terminou deixando um beijo e desejando que todos ficassem com Deus.

Tudo bem, mas a repercussão continua entre as atletas de vários clubes, até porque Chu Santos é jogadora da seleção brasileira de futebol feminino e será (seria) indicada para formar o time do Brasil para a Olimpíada de Tóquio. Não cabem mais mensagens de ódio e preconceito. O país está cansado disso. Mas esses valores invertidos passaram a fazer parte da paisagem deste país. Bem disse a jogadora Cristiane, sem citar o nome de Chu. A premiada atacante observou que, em meio a tantas lutas, tantos preconceitos e piadas que fazem mal, há, no meio do futebol feminino, alguém que não tem o mínimo de respeito e amor ao próximo, o que Deus deseja a todos. Alguém que surge com um falso moralismo, julgando e atacando as pessoas. Já a jogadora Tamires, lateral da seleção brasileira, postou uma frase de Paulo Gustavo, que diz que uma família pode ser dois pais, duas mães, um pai e uma avó, um tio e uma tia. O que vale é o amor. O Palmeiras também se manifestou, dizendo que Chu Santos escreveu de maneira equivocada na rede social. Pediu desculpas à população e orientou a atleta para adequação de seu comportamento. O clube informou que o caso está sendo tratado internamente. Então é assim: gente que fala muito em Deus e põe religião em tudo nem sempre prima pela dignidade. Lá no fundo, o que existe é mesmo um certo rancor cultivado, cada vez mais, mostrando a verdadeira cara de um país que vive de mentiras.  

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