Jovem Pan
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Ordem no Brasil é deixar todo mundo sair às ruas, só precisa sobrar alguém para enterrar os mortos

Nesse sábado (2), coveiros do cemitério de Vila Formosa tem auxilio de escavadeira na preparação das covas para sepultamentos das vítimas do novo Coronavírus no estado de São Paulo

As últimas notícias sobre a pandemia são assustadoras. E o comportamento de muitos diante desse cenário dramático também. Assustam essas vozes que se põem a falar contra as restrições para enfrentar o vírus, como especialistas da verdade, o que está se transformando numa verdadeira guerra entre brasileiros. E nessa contenda, o presidente Jair Bolsonaro tem uma participação decisiva ao alimentar uma discussão que joga cada vez mais o país para baixo. O vírus é uma mentira. A doença também. Os mais de 270 mil mortos idem. Bolsonaro já avisou que não colocará seu exército rua para proibir que as pessoas saiam de casa. E entrou com uma ação no STF contra as medidas restritivas decididas por governadores. Realmente, o isolamento das pessoas contra o coronavírus é uma estupidez, não é mesmo? Uma grande estupidez. A ordem é deixar que todos saiam às ruas, mas que fique alguém para enterrar o país numa cova rasa. Mas nessa história mórbida há uma ressalva necessária: O que fazer com o transporte público, em que as pessoas viajam uns encostados nos outros, uma fábrica de contágio? No entanto, isso depende de decisões firmes e civilizadas dos governos municipais, estaduais e o federal também, desde que o presidente da República decida colaborar, que é sua obrigação, e não criar intrigas e desavenças todos os dias. Parece torcer pelo vírus.

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A microbiologista e fundadora do Instituto Questão de Ciência, formada em ciências biológicas pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), PhD com pós-doutorado em microbiologia, na área de genética molecular de bactérias pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICM-USP), Natalia Pasternak, falando ao “Jornal da Manhã”, da Jovem Pan, na quarta feira, 17, defendeu soluções mais drásticas e restritivas no combate à Covid-19, observando que as medidas que estão sendo tomadas são bem-vindas, mas não suficientes para o atual estágio da pandemia no Brasil. Em sua defesa ao lockdown, disse que o país nunca teve coragem de implementar essa medida como se deve. Se não for implementado um lockdown de verdade, o sistema de saúde no Brasil vai mesmo entrar em colapso total. Adiantou que o isolamento tem que ser mais drástico e restrito porque o país vive hoje uma situação dramática. 

Natalia Pasternak afirmou que em um ano de pandemia, o Brasil já devia ter aprendido a lição. Assinalou que os países que tomaram medidas mais drásticas conseguiram diminuir o número de mortos vítimas do vírus. Disse que muita gente precisa parar com esse mimimi (ou só vão parar quando a mãe de um deles morrer da doença). É possível que, numa situação assim, consigam enxergar melhor e mudar de opinião sobre o lockdown. Nessa entrevista à JP, a microbiologista afirmou textualmente que não haverá hospital para a mãe, para o pai, para a avó. E nesses casos, o dinheiro é o que menos conta. Não adianta ter dinheiro para combater a Covid-19. Natalia explicou que, neste momento, o Brasil vive um “tsunami” de casos. E se o povo achar que o vírus não existe e ignorar as recomendações, logo poderemos ver pilhas de mortos nas ruas, com o colapso total inclusive do sistema funerário. Afirmou não ser humanamente aceitável perder perto de 3 mil vidas por dia. Isso não pode ser ignorado. É imprudente continuar negando a importância do lockdown para conter o avanço da doença. Pior é que a vacinação caminha lentamente por falta de doses. Até onde ela sabe, gente morta não movimenta a economia, só o serviço funerário e, sem uma mudança na Saúde e o fim do negacionismo, a situação tende a piorar mais. 

Diante de uma afirmação assim de alguém como Natália Pasternak, é difícil compreender aqueles que, todos os dias, dizem que o lockdown é uma medida ineficaz, colocando-se acima da ciência por questões ideológicas ou sabe-se lá por quê. Uma cantilena que se repete e chega a ser raivosa, com conceitos que não se sustentam. Então, a ordem é abrir tudo, deixar que todos saiam às ruas. Abrir o comércio, os restaurantes, os cinemas, os parques, os bailes funk, o pancadões, abrir tudo, cada um faça o que quiser da vida, como aliás, reza a Constituição brasileira no que diz respeito ao direito de ir e vir. Mas que reste alguém para enterrar os mortos. Ou não é assim?

Neste domingo, 21, empresários, ex-ministros e economistas divulgaram um manifesto pedindo medidas efetivas para combater a Covid-19, afirmando que já há necessidade de se pensar num lockdown nacional. Pediram também apoio à vacinação e ao uso da máscara, que, no Brasil, parecem ser coisas descartáveis, seguindo a política que reina agora. A carta será encaminhada hoje, segunda-feira, 22, aos representantes dos três poderes, citando como medidas urgentes acelerar o ritmo da vacinação, distribuir máscaras gratuitamente, implantar medidas de distanciamento social e criar uma instância de coordenação dessas medidas em todo o país. Criticando o empenho do governo federal até agora diante do que está acontecendo, o documento observa que a situação é desoladora. Chegou aonde tinha de chegar. De acordo com o manifesto, o governo despreza as medidas de combate ao coronavírus numa ação de incompetência, ignorando e negligenciando a ciência. A carta observa ainda que a demora para vacinar a população é muito mais danosa que a redução da atividade econômica para o país. Assinala, também, que chegamos a um ponto em que não há mais tempo a perder com debates estéreis e notícias falsas. Hoje o Brasil vive uma situação sem precedentes de sua história.

Esse descalabro descrito nesse manifesto de economistas, empresários e ex-ministros revela uma incompetência vergonhosa daqueles que, desde o início, ignoraram o mal e até ofenderam a população preocupada. Seremos um país de doentes e de mortos. Nunca se imaginou que o Brasil, um dia, pudesse representar uma ameaça para o mundo. Mas é isso que está ocorrendo. A doença avança sem controle, onde o presidente da República entra com ação no Supremo Tribunal Federal contra as medidas restritivas determinadas por governadores e prefeitos do país. Essas pessoas conhecem e sabem o que ocorre em seu território, ao contrário do governo federal que sempre se manteve distante desse drama com mais de 270 mil brasileiros mortos. Distante e contra todas as medidas que buscam enfrentar o vírus. Sempre contra. Sempre. Fazer o que num país que prefere o caminho da desordem que chega a ser inacreditável.

Enquanto isso tudo acontece por aqui, para citar apenas um exemplo, a França determinou um lockdown de um mês em Paris e parte do norte do país. Um mês. Motivo: a vacinação que ocorre lentamente e a disseminação de variantes do vírus altamente contagiosas. O presidente francês Emmanuel Macron decidiu mudar os rumos diante desse cenário. É preciso lembrar que Macron sempre foi contrário às medidas restritivas, dizendo sempre que faria tudo para deixar aberta a segunda maior economia da zona do euro. E então? A França isolando Paris por um mês. Deve ser mesmo um país de imbecis, não é mesmo? Um país qualquer da Europa. Uma zona. Só um país de idiotas tomaria uma medida assim, não é? Deve ser. Só um país de idiotas. O Brasil está certo em tudo que faz contra a Covid-19. É um exemplo para o mundo. Estamos de parabéns.

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