Brasil tem 3 pontos preocupantes a observar e que vão impactar diretamente na economia

Atraso da vacinação contra a Covid-19, continuidade da expansão fiscal e inflação têm deixado o mercado financeiro muito incomodado

  • Por Fernanda Consorte
  • 16/03/2021 11h52 - Atualizado em 16/03/2021 11h53
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EFE/EPA/JUNG YEON-JE / Archivo Vacina de Oxford/AstraZeneca Mercados começaram a balançar no pregão desta segunda-feira, 15, em meio a preocupações com países suspendendo o uso da vacina de Oxford

O Brasil tem, hoje, três grandes preocupações na minha visão (por favor, notem que falo isso no âmbito do mercado financeiro, para o que estão olhando e, portanto, formando os preços negociados). A primeira delas, e mais importante, é a pandemia. Os números do Brasil são horríveis e assustadores. Se fizermos uma nuvem de palavras, “lockdown” certamente estaria no centro da nuvem em letras garrafais. Não é para menos, já que a média móvel dos últimos 7 dias mostra novos casos de cerca de 60 mil com ocupações recordes de leitos de UTI. Sabemos, em contrapartida, que a única solução para essa crise é a vacinação; claro que a restrição de circulação ajuda a diminuir esses números cavernosos, mas o fim dessa crise só se dará pela vacinação, na ausência de um remédio efetivo. 

E estamos lentos nessa saída. Hoje no Brasil o grande fornecedor de vacinas do plano nacional de imunizações (PNI) é a AstraZeneca/Oxford, e em segundo lugar a CoronaVac, produzida pelo Butantan. Fora todas as ineficiências apresentadas semanalmente pelo governo federal em distribuição, atrasos de negociações etc., a AstraZeneca está com fabricação atrasada no mundo todo (Europa inclusive, ao ponto de lá já se falarem em 3ª onda). E para colocar mais água nesse feijão, a Organização Mundial de Saúde (OMS) fala sobre a avaliação da vacina. Não à toa, os mercados começaram a balançar no pregão da última segunda-feira, 15, em meio a preocupações com países suspendendo o uso dessa vacina. Em poucas palavras, o principal fornecedor das vacinas do Brasil está atrasado mundialmente e sendo questionado pela efetividade do imunizante. 

O segundo ponto de preocupação são as contas fiscais. Já falei e repeti em diversos artigos que esse é nosso ‘calcanhar de Aquiles’. E quanto mais a pandemia se arrastar, quanto mais precisarmos de restrição de mobilidade, fechamento de estabelecimentos, mais pressão por gastos fiscais. Esse cenário numa época em que já se fala em eleições presidenciais (o episódio Lula antecipou em quase 1 ano a discussão sobre as eleições presidenciais de 2022), não sugere muita disposição a cortes de gastos, a desinflar a máquina pública. E daí que a dívida bruta vai nos consumir e deixar o Brasil em condições ainda menos favoráveis, sobretudo no pós crise. 

O terceiro ponto de tensão está justamente na perversidade que o equilíbrio macroeconômico traz com uma combinação de gastos fiscais e taxa de câmbio alta; que é a inflaçãoO IGP-M, por exemplo, indicador de inflação com cerca de 60% de seus componentes com preços no atacado, já acumula alta de 28,9% nos últimos 12 meses até fevereiro de 2021. Importante ter em mente que os preços do atacado serão repassados ao restante da cadeia, aos consumidores. Isso significa IPCA alto, acima da meta. A pesquisa focus do Banco Central já mostrou as expectativas de inflação irem a 4,5% para 2021, ultrapassando a meta de 3,75%. E assim será, assim já está. Em resumo, o atraso da vacinação e sua forte dependência de poucos fornecedores, a continuidade de expansão fiscal e a inflação tem deixado o mercado financeiro (e a mim) bastante incomodado. Sugiro observarmos esses três pontos e para onde caminha o Brasil.

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