Pergunta de US$ 1 milhão: a taxa de câmbio a R$ 5 é sustentável?

Projeção de vacinar todos os adultos em São Paulo até o final de outubro traz otimismo, mas possível terceira onda da Covid-19 e pressão na agenda da Câmara e do Senado preocupam

  • Por Fernanda Consorte
  • 08/06/2021 15h35
Pixabay Notas de dólar espalhadas Taxa de câmbio está querendo encostar em R$ 5

Tivemos uma melhora importante nos ânimos dos mercados financeiros nas últimas semanas. A principal marca disso é a taxa de câmbio, que está querendo encostar em R$ 5 (falei na última coluna que, em alguns momentos, a variação importa menos que o nível, mas tentarei não ser repetitiva), enquanto a Bolsa de Valores está focada nos 130 mil pontos. A pergunta de US$ 1 milhão é o quanto isso é sustentável. Já antecipo que não sei, e entendo que eu perca o leitor nesse momento. Mas eu tenho dúvidas dessa sustentabilidade. O que me deixou otimista, ou ao menos um pouco menos ansiosa, foi que o governo de São Paulo divulgou o calendário da vacinação de todos os adultos até 31 de outubro. Claro que saber quando vou me vacinar ajuda no ânimo, mas olhando pela lente de macroeconomia, saber que o maior Estado brasileiro (SP representa cerca de 30% do PIB do país) deve vacinar sua população ainda este ano, deixa brechas importantes para planos e aumento da confiança, aquela mesma que pauta decisões de geração de empregos, de novos investimentos e por aí vai.

Além disso, vale mencionar que o Banco Central divulgou que os brasileiros depositaram cerca de R$ 73 milhões na poupança em maio. Este foi o segundo mês de captação positiva para a poupança após três meses de saques. O resultado pode estar relacionado a volta do pagamento do auxílio emergencial para uma parcela da população, por exemplo. Por outro lado, a maior preocupação de curto prazo em Brasília parece ser uma potencial terceira onda da Covid-19 — e há quem fale de Copa América aqui no Brasil –, aumentando a pressão para uma nova extensão do auxílio emergencial – que atualmente encerra em julho. Além da ausência de recursos disponíveis para continuidade de pagamento do benefício, haverá ainda mais pressão sobre a agenda da Câmara e do Senado nos próximos meses. Somado ao já próximo recesso parlamentar em julho (sim, já se avizinha o segundo semestre), as reformas que deveriam estar na pauta (tributária e administrativa) perderiam espaço de discussão. Tanto que o presidente da Câmara, Arthur Lira, afirmou que o ideal é a Casa votar o novo programa social, que substituiria o Bolsa Família, antes do recesso. Por fim, quanto mais o tempo passa, mais 2022 está próximo. E anos de eleições presidenciais são mais incertos, gerando volatilidade nos mercados. Em resumo, chutaria numa taxa de câmbio mais próxima de R$ 5,20 do que abaixo de R$ 5 no segundo semestre do ano. Vamos acompanhar.

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