Estamos vendo um ensaio de renascimento da Guerra Fria

  • Por Jovem Pan
  • 14/04/2018 09h23 - Atualizado em 14/04/2018 13h19
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Agência EFE Agência EFE Para Marcos Troyjo, um embate entre Rússia e EUA acarretaria em "consequências terríveis" para o planeta

Na noite da última sexta-feira (13), os Estados Unidos deram início a uma ofensiva contra a Síria. Segundo o presidente Donald Trump, os alvos seriam pontos estratégicos e relacionados com locais de produção de armamentos químicos. Em entrevista para a Jovem Pan, Marcos Troyjo, diplomata e diretor do BRICLab da Universidade Columbia, analisou as possíveis consequências deste ataque norte-americano e afirmou que um embate entre Rússia e EUA acarretaria em consequências terríveis para o planeta.

“Foi um ataque coordenado entre três do membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Geralmente, uma ação internacional ou é um ato de defesa de um país ou tem que ser objeto de um mandado do Conselho de Segurança. Essa situação é particularmente difícil porque os outros dois membros desse conselho, China e Rússia, não são favoráveis à interferência ocidental na síria. Se um protocolo fosse apresentado, a Rússia vetaria e china se absteria. Por isso, os EUA resolveram contornar o Conselho de Segurança, pois a situação humanitária assim o exigia. Fizeram uma aposta política e de uma forma bastante cirúrgica, tomando o cuidado de atingir pontos específicos para evitar problemas. Grande incógnita agora é a reação dos russos, que se aproximaram de Assad e se encontram em um verdadeiro cabo de guerra com o ocidente. Estamos vendo um “ensaio” de renascimento da Guerra Fria. Próximas horas serão importantes para averiguar qual vai ser a reação da Rússia, e eu espero que nada de mais grave aconteça”, afirmou Marcos.

Outro ponto ressaltado é a complicada relação entre Donald Trump e Vladimir Putin. Para ele, os sinais que surgiram durante a campanha eleitoral que elegeu o atual presidente dos Estados Unidos, e que davam conta de uma possível aproximação entre Washington e Moscou, acabaram não se concretizando.

“A relação Putin – Trump é mal explicada. Tem gente que diz que eles nunca se encontraram pessoalmente antes que Trump assumisse como presidente, mesmo que durante a campanha os sinais vindos da Rússia eram de grande satisfação em relação a sua possível vitória. É uma relação super esquisita. Por outro lado, a imprensa norte-americana tende a exagerar muito o potencial de influência da Rússia. Apesar das histórias sobre a relação dos dois durante as eleições, no jogo diplomático concreto essa empatia acabou não se convertendo no aumento do potencial de cooperação. Hoje, a relação é tão ruim quanto na época do Barack Obama”, disse o diplomata.

Por fim, o professor Marcos Troyjo também fez uma rápida análise sobre o lamentável episódio acontecido nessa semana no Equador: na última sexta-feira (13), o presidente do país sul-americano confirmou a morte de três jornalistas equatorianos que estavam em poder de dissidentes das Farc. Para ele, o episódio vai ter um grande impacto nas eleições presidenciais, principalmente na Colômbia, onde o acordo de paz feito pelo governo com as Farc não foi bem visto, sendo inclusive rejeitado pela população: “Candidato apadrinhado pelo ex-presidente Álvaro Uribe, que foi uma das vozes contrárias a este acordo, pode acabar se fortalecendo após esse triste acontecimento”.

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