Pandemia de Covid-19 deve se tornar endêmica e teremos de aprender a conviver com o vírus; entenda

Até a Austrália e a Nova Zelândia, que conseguiram controlar a Covid ao longo dos últimos 18 meses, estão desistindo do objetivo de suprimir totalmente o vírus

  • Por Mônica Magalhães
  • 24/10/2021 08h00
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RENATO S. CERQUEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO Pedestres se protegem do vento frio nesta quarta-feira (11), no centro de São Paulo) Uso de máscaras em ambientes fechados continuará sendo necessário

Enquanto o Brasil chega à metade da população completamente vacinada, infelizmente não podemos falar no fim da Covid. Com a variante Delta ainda sendo transmitida até em áreas com alta cobertura vacinal e com novas variantes esperadas, o mundo vai ter que se preparar para conviver com o vírus. Até a Austrália e a Nova Zelândia, que conseguiram controlar a Covid ao longo dos últimos 18 meses com restrições pesadas de mobilidade e lockdowns ao primeiro sinal de um surto, estão desistindo do objetivo de suprimir totalmente o vírus. Após a pandemia, a Covid deve se tornar endêmica.

Nesse cenário de aprender a viver com o vírus, vamos ter que superar as divisões e politização de questões de saúde pública que tanto nos atrapalharam no início da pandemia. Em vez de debater qual vacina é melhor com base em achismo ou indicadores de curtíssimo prazo, finalmente vamos ter dados mais sólidos sobre a eficácia e a durabilidade dos efeitos de cada vacina. Com o tempo (e infelizmente, com o vírus se tornando endêmico, vamos ter muito tempo…), teremos também dados sobre os diferentes esquemas vacinais possíveis: será melhor combinar diferentes tipos de vacina, ou tomar um tipo só? Será melhor ter intervalos mais curtos entre as doses, ou mais longos? De quanto em quanto tempo precisaremos de reforços? Tomaremos mais doses da mesma vacina, ou vacinas reformuladas periodicamente, adaptadas para as novas cepas, como acontece com a vacina da gripe?

Mas nem todos os dados do mundo, sozinhos, vão resolver os problemas mundiais de produção e distribuição de vacinas. Se não tivermos a vacina considerada a melhor, ou as melhores, ou não as tivermos em quantidade suficiente para todos, será necessário abandonar a tentação de ser “sommelier de vacinas”. E se diferenças de efetividade ou segurança entre as vacinas forem definitivamente demonstradas, será ainda mais difícil aceitar a vacina que estiver disponível, mesmo que não seja a ideal, em nome da imunidade coletiva, sem buscar exceções para nós mesmos.

Nós, brasileiros, vamos nos acostumar a um novo esquema de vacinação, assim como sempre aceitamos muito bem as outras vacinas. Mas talvez seja mais difícil nos adaptarmos à continuidade de outras medidas de controle da transmissão. Por quase dois anos de pandemia, esperamos ansiosamente pelo retorno a uma normalidade que talvez não volte, ou não volte tão cedo. Continuar a usar máscaras em ambientes fechados, a manter algum nível de distanciamento social, a evitar aglomerações e ambientes mal ventilados, vai ser um desapontamento. Não é, de forma alguma, impossível viver com essas normas—em alguns países, o uso de máscaras já era normal antes da pandemia, e é apenas parte das boas maneiras, nada de mais. São mudanças de hábitos que talvez sejam necessárias em tempos de endemia.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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