Brasil não deveria seguir o exemplo do Reino Unido no combate à Covid-19: liberdade exige vigilância
Governo britânico abruptamente acabou com a obrigatoriedade de máscaras e passaportes da vacina, reduziu o programa de testagens e acabou com o período de isolamento para quem testa positivo
Com casos, hospitalizações e mortes por Covid-19 caindo em quase todo o mundo após o pico da variante Ômicron, as partes mais vacinadas do mundo continuam a abandonar restrições e a voltar a uma vida mais parecida com a normalidade pré-pandemia. Países europeus e regiões dos Estados Unidos já estão flexibilizando regras como obrigatoriedade de máscaras e apresentação do comprovante de vacinas. Estados brasileiros estão considerando flexibilizar as regras sobre o uso de máscaras depois do carnaval – apesar dos eventos públicos terem sido restritos ou cancelados, vai ter festa e um aumento de casos é inevitável. Conforme relaxamos os cuidados na vida cotidiana, fica ainda mais importante que quem pode ter sido exposto ao vírus tenha acesso fácil e rápido a testes, para que os infectados assintomáticos se isolem ou tomem precauções, protegendo os outros.
Uma estratégia para viver com o vírus com restrições mínimas sobre a população exige também testagem sistemática, para detectar cedo uma possível piora da situação que exija a volta das restrições; ou para detectar novas variantes, possivelmente mais perigosas. E outras formas de vigilância sanitária, como por exemplo o monitoramento do coronavírus nos esgotos, uma medida que permite o acompanhamento da pandemia, mas não é percebida pelas pessoas em sua vida cotidiana. Sem essas medidas, permitindo o descontrole da Covid, a atual variante já pode sobrecarregar os hospitais, e uma possível cepa mais letal causaria um desastre. Para conviver com um vírus e manter mais liberdades no dia a dia, é preciso vigilância pelo sistema de saúde.
Um exemplo que o Brasil não deveria seguir é o do Reino Unido, que abruptamente acabou não apenas com a obrigatoriedade de máscaras e passaportes de vacinas, mas também reduziu o programa de testagens e acabou com o período de isolamento recomendado para quem testa positivo. Autoridades locais e sanitárias do próprio país manifestaram insatisfação com o fim abrupto de todas as precauções, e algumas cidades e empresas vão continuar a observar as restrições por enquanto, mesmo sem a obrigatoriedade. As medidas são vistas por alguns como uma tentativa do primeiro-ministro de distrair o público do recente escândalo sobre membros do governo desrespeitando as regras de combate à Covid.
Outro custo das maiores liberdades internas pode ser a continuação das restrições às viagens internacionais. Essas também já se abrandaram muito em comparação ao que se viu em 2020, mas há menos pressa por parte dos governos para continuar a liberar as viagens entre países. Faz sentido, afinal, menos gente é afetada por estas restrições, e quanto mais relaxados o controle e as restrições dentro de cada país, maior o risco de que uma nova variante que porventura venha de fora cause uma nova onda de Covid. Portanto, ainda mais importante não receber viajantes não vacinados ou potencialmente infectados. Ou seja, expandir a liberdade na vida cotidiana com prudência exige outros tipos de precaução.
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