Após Trump sabotar globalização da economia, acordo Ásia-Pacífico é boa notícia inesperada
Ao se retirar da Parceria Transpacífica, mais de três anos atrás, os EUA abriram espaço para a China, que estava de fora, entrar e liderar o processo
Nos últimos quatro anos, desde que Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos, o mundo assistiu a um recuo na globalização da economia. A Organização Mundial do Comércio (OMC) foi esvaziada. Além disso, os EUA deixaram a Parceria Transpacífica (TPP), um acordo que deveria conectar 40% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Como resultado, se falou mais em acordos bilaterais entre países do que em acordos em blocos. E aí vem a boa notícia do final de semana. Com presença pela primeira vez da China, Coreia do Sul e Japão, 15 países do sudeste asiático e da Oceania assinaram o maior acordo comercial da história. Uma boa notícia até meio inesperada, já que não se vinha falando muito no assunto, mas que traz de volta ao foco os grandes acordos comerciais.
Além dos três gigantes asiáticos, economias importantes, como da Austrália, Nova Zelândia, Indonésia, Vietnã e Filipinas também assinaram o acordo, que envolve, no total, 2,2 bilhões de pessoas e 30% do PIB mundial, considerando, ainda, que a Índia acabou deixando o tratado na fase final de negociações. A justificativa é de que o país temia a invasão de produtos chineses, caso abrisse o mercado. Mesmo sem os indianos, o tratado deve estimular o aumento do comércio na região, dado o tamanho das economias envolvidas. Especialistas apontam também que o acordo deve aumentar ainda mais a influência da China no que hoje é chamada de “moderna Rota da Seda”. Ou seja, um traçado que vai da famosa rota de comércio da antiguidade e passa pela Ásia Central, conectando, na versão moderna, o sul e sudeste do continente, além da Europa e África.
O traçado vem sendo negociado há pelo menos oito anos e ganhou impulso, ironicamente, com os esforços de Donald Trump para sabotar a globalização. Ao se retirar do TPP, mais de três anos atrás, os EUA abriram espaço para a China, que estava de fora, entrar e liderar o processo, aumentando o número de economias que vai participar. Para os países, significa também uma oportunidade de recuperar suas economias, afetadas pelo coronavírus. Por causa da crise, a economia das Filipinas, por exemplo, apresenta queda de 11,5% no ano. Mesmo o Japão, país rico, deve ver o PIB se contrair mais de 5% em 2020. O acordo traz a esperança de crescimento mais rápido. Mas, mais do que isso, anuncia: os blocos comerciais estão de volta, e em grande estilo.
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