Economia do Japão cresce 5% no terceiro trimestre e sai da recessão

Depois de registrar uma queda histórica, terceira maior economia do mundo deu sinais de recuperação, mas deve ter nova retração devido ao aumento de casos da Covid-19 pelo mundo

  • Por Bárbara Ligero
  • 16/11/2020 18h31 - Atualizado em 17/11/2020 15h34
EFE/EPA/FRANCK ROBICHON O fato do governo japonês ter incentivado a população a consumir internamente ajudou na recuperação econômica

Nesta segunda-feira, 16, o Japão reportou um crescimento de 5% do seu Produto Interno Bruto (PIB) entre julho e setembro. A comparação foi feita em relação aos três meses anteriores, quando a terceira maior economia do mundo registrou uma queda histórica de 8,2% devido aos impactos da pandemia do coronavírus. O resultado, maior do que o previsto, dá fim a uma sequência de trimestres consecutivos de recessão. Segundo Alexandre Uehara, especialista em política asiática e coordenador do Centro Brasileiro de Estudos e Negócios Internacionais da ESPM, esse crescimento se deu pela retomada da economia da China, grande parceira do Japão, e também pelas ações internas do governo japonês. “A população recebeu cerca de cem mil ienes para gastar com produtos nacionais ou viajar dentro do país”, exemplificou.

A expectativa, no entanto, é que o fenômeno não se repita entre outubro e dezembro devido à segunda onda de casos de Covid-19. “O aumento no índice de infecções na Europa e nos Estados Unidos acendeu um sinal de alerta novamente e fez com que o governo voltasse a pensar em medidas de isolamento social”, afirma Uehara. Na sexta-feira, 13, o país registrou 1.685 novos casos de coronavírus, volume que pode parecer pequeno quando comparado com o do Brasil, mas representa um recorde no número de pessoas contaminadas em um único dia no Japão.

Além disso, o especialista em economia asiática explica que o país ainda sofre com o fechamento das suas fronteiras, que impede o fluxo de estrangeiros em um contexto em que a indústria do turismo vinha crescendo no país. Os próprios Jogos Olímpicos de Tóquio, que tiveram que ser adiados para 2021, imobilizaram um investimento que só dará retorno no ano que vem. Em outubro, o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach, afirmou que as competições contarão com a presença de público internacional nas arquibancadas. Para isso, medidas de segurança contra a Covid-19 durante o evento começaram a ser testadas.

Parceria Econômica Regional Abrangente

Neste domingo, 15, o Japão se tornou um dos quinze países membro da Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP, na sigla em inglês). Para Alexandre Uehara, esse movimento mostra que o país percebeu como esses acordos multilaterais são importantes para a economia. O especialista em relações internacionais da Ásia, Pedro Brites, acrescenta que o Japão vem enfrentando dificuldades de crescimento econômico desde a década de 1980 e que parte do seu plano para reverter a situação tem sido buscar parcerias na África e nos países vizinhos. “Me parece que o Japão deve continuar focado em diversificar e aumentar a sua rede de parceiros comerciais, já que perdeu mercado com o avanço da China e da Coréia do Sul nas últimas décadas”, justifica. Em concordância com essas afirmações, Uehara acredita que a entrada do Japão no RCEP também pode servir de lição para o Brasil, que está perdendo mercado ao demorar em fazer novos acordos comerciais. “A Ásia é a região que mais cresce no mundo e, se não nos vincularmos a esses países, vamos acabar ficando para trás. No mercado internacional, quem chega depois tem que lutar com quem já está consolidado”, pontua.

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