Febre nos Estados Unidos, ‘IPO do cheque em branco’ está a caminho do Brasil

Modelo em que investidor dá o dinheiro na mão de fundo sem saber em qual empresa apostará atrai astros como Shaquille O’Neal; há três meses, executivos discutem como trazer novidade para o país

  • Por Samy Dana
  • 10/04/2021 10h00
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@drobotdean - www.freepik.com Homem sentado em uma mesa de um café analisa investimentos em seu computador Para os investidores, Spac pode ser lucrativa se a empresa escolhida realmente chegar à Bolsa

A maioria das pessoas ainda não deve ter ouvido falar de Spac. É uma modalidade de investimento que ganhou corpo no ano passado e, animada pela forte liquidez no mercado financeiro, uma verdadeira febre nos Estados Unidos. Spac é a sigla em inglês para veículo de propósito específico de aquisição. Uma forma de investir acreditando que os gestores de fundos serão capazes de achar uma empresa promissora para comprar e, com novos investimentos, crescer e depois lançar ações na Bolsa. Mas, quando o dinheiro é repassado ao fundo, ninguém sabe ainda qual será a empresa. Daí o apelido que a operação ganhou: IPO do cheque em branco. Só depois que o dinheiro entra no caixa é que se vai atrás de uma candidata. Para as empresas, a vantagem é que há menos exigências e custos de captação do dinheiro, como contratar um banco, do que em um IPO. Para os investidores, a aposta pode ser lucrativa se a empresa realmente chegar à Bolsa. Pagam bem menos do que comprando ações na oferta pública.

Em 2020, metade dos IPOs nos Estados Unidos foi às escuras. Neste ano, até o fim de março, foram realizados quase 300, levantando US$ 96 bilhões. O segredo está na capacidade do gestor de encontrar boas oportunidades. Mas parte do entusiasmo com os Spacs se deve ao envolvimento de celebridades. Além de nomes ligados ao mundo dos negócios, como Steve Wozniak, co-criador da Apple, e Ronald Perelman, da Revlon, há investimentos ligados a artistas e astros como Shaquille O’Neal, do basquete, e Alex Rodriguez, do beisebol.

É um aspecto que levanta críticas. Muitas celebridades entram nos negócios só para manter seus nomes em evidência ou seus contratos, como é o caso de Shaq. Investidores comuns, que vão atrás só porque seu astro favorito fez o mesmo, correm grande risco de perder dinheiro. Bill Gates, fundador da Microsoft, aponta ainda que os Spacs podem prejudicar as empresas, acelerando o caminho para chegar à Bolsa sem que tenham amadurecido no mercado. Um caso apontado pela Bloomberg nesta semana é da Canoo, fabricante de carros elétricos. Com um Spac, a companhia lançou ações em dezembro, apenas três anos depois de ser criada. Nas primeiras semanas, os papéis subiram mais de 50%. Hoje valem menos do que no lançamento.

Os resultados da Canoo nos últimos meses mostraram que suas finanças não andam bem e as projeções para o futuro tampouco não são boas. Alertas à parte, é um investimento que pegou. E que está chegando ao Brasil. Desde julho do ano passado, cinco Spacs foram criados para investir em empresas de tecnologia e do varejo no país. Espera-se a captação de US$ 1,1 bilhão. Como este tipo de sociedade ainda não é regulada no Brasil, o dinheiro foi levantado nos Estados Unidos, mas não deve demorar para surgirem os Spacs brasileiros. Há três meses, executivos, gestores e advogados discutem, a convite da Anbima, associação que reúne as entidades do mercado financeiro, como trazer a novidade para o país.

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