Samy Dana: Conter a Covid-19 deu à China uma vantagem econômica

Entre abril e junho, o PIB chinês cresceu 11,5%

  • Por Samy Dana*
  • 03/09/2020 12h08
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EFE/EPA/ALEX PLAVEVSKI Mulher de máscara anda mexendo no celular na China China aplicou medidas rígidas de isolamento mento, mas que restringiam liberdades dos cidadãos

Não dá para comparar totalmente como países agem contra o coronavírus. Diferenças geográficas, sociais e culturais importam. Estratégias que funcionam em um lugar podem dar errado em outro. Mas feitas estas considerações, os resultados da China no primeiro trimestre demonstram o quanto seu PIB (Produto Interno Bruto) saiu ganhando com a contenção precoce da epidemia. Entre as 30 principais economias do mundo, compiladas pela OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a chinesa foi a única a registrar crescimento no segundo trimestre. Entre abril e junho, o PIB chinês cresceu 11,5%. No acumulado do ano, sobe 1,5%. Como comparação, a Suécia, que não fechou sua economia, caiu 8,5%.O Reino Unido, que rejeitou o isolamento na fase inicial e acabou obrigado a uma quarentena mais rígida depois, teve a pior queda: -20%.E nos Estados Unidos da falta de coordenação no combate à covid-19 o estrago foi de -10,2% em seis meses.

A China não escapou do desastre inicial. Ao aplicar uma das quarentenas mais rígidas, nas primeiras semanas da pandemia, manteve o número de mortes abaixo de 5 mil, com 85 mil casos no total. Mas a economia caiu 10% no primeiro trimestre, bem mais do que no resto do mundo. A liberação da população, em março e abril, veio acompanhada de medidas rígidas de vigilância. Como mostrei há alguns dias, se você for à farmácia e comprar um antitérmico, o governo é avisado e passa a monitorar se está com covid-19. Questões como esta, de liberdade, jamais seriam aceitas em países da Europa ou mesmo aqui no Brasil.

Mas, nas palavras da agência de risco Fitch, a política de contenção chinesa deu condições para uma retomada rápida da economia. Ao reabrir, a China reabriu de vez. Casas  noturnas, cinemas, shoppings, indústrias… tudo voltou no ritmo de antes. Uma retomada mais acelerada do que a dos Estados Unidos, que, seis meses depois dos primeiros casos, ainda não conteve a epidemia e segue com problemas na economia. O lado bom dos números é sugerir que que o PIB nos países mais atingidos, inclusive o Brasil, volta a crescer assim que o coronavírus é contido. Por uma vacina, tratamentos mais eficazes para os casos mais graves, testes ou um distanciamento que funcione até o fim da epidemia. Mas também deixam um alerta: se conter rápido o vírus traz benefícios econômicos, conviver com ele tem um preço: a crise é mais longa.

*Samy Dana é economista e comentarista da Jovem Pan.

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