Samy Dana: O que sustenta a escalada do Ibovespa

Mercado foca no futuro, e investidores apostam que o governo federal conseguirá aprovar as reformas estruturantes da economia

  • Por Samy Dana*
  • 13/07/2020 07h10 - Atualizado em 16/07/2020 21h58
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WILLIAN MOREIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, voltou, após quatro meses, a fechar acima dos 100 mil pontos, na sexta-feira, 10

Muitos comentários sobre o mercado financeiro envolvem atualmente a ideia de que a Bolsa de Valores tem pouco a ver com a economia real. Se o Brasil ainda se encontra no pico da pandemia da Covid-19 e os preços das ações sobem, a alta seria especulativa. Os investidores teriam pouco interesse na economia de verdade. No máximo, esse sobe e desce seria fruto de oferta e procura. Sem negar essa segunda premissa – as Bolsas funcionam, sim, com compradores e vendedores de ações –, os preços não sofrem de falta de conexão com a realidade.

Em 3 de abril, com as medidas de isolamento social no auge, a queda das ações refletia as perspectivas tenebrosas para as maiores empresas brasileiras, que estão na B3, a Bolsa brasileira. Via Varejo e Magazine Luiza tiveram lojas fechadas em todo o país, com a perspectiva de perder faturamento e clientes, enquanto a Vale ainda enfrentava a queda nas vendas de minério para seu principal cliente, a China, primeiro país atingido pela Covid-19.

Confira os exemplos:
Via Varejo: -65,1% no dia 3 de abril; +50,2% em 10 de julho
Magazine Luiza: -20,1% no dia 3 de abril; +61,0% em 10 de julho
Vale: -25,5% no dia 3 de abril; +4,9% em 10 de julho

Mas em abril tudo mudou. Na Europa, controlada a epidemia, os países começaram a liberar suas populações e a reabrir a economia. O mesmo aconteceu nos Estados Unidos e também aqui no Brasil. A essa altura, a China, que encerrou o isolamento primeiro, ainda em março, já se recuperava. E começou a ficar claro que as duas grandes varejistas conseguiram transferir grande parte das vendas para a internet. Em resumo, o foco do mercado é no futuro.

No momento, a Bolsa sobe acreditando que o governo conseguirá aprovar as reformas da economia. A administrativa, a fiscal e a tributária, principalmente. Se os investidores fossem olhar só para o momento atual, o cenário é de um aumento brutal dos gastos do governo com o combate à pandemia do coronavírus, com a dívida pública chegando a 90% do PIB este ano. A Bolsa está subindo porque o mercado confia que a situação fiscal será revertida. Por isso, não presta tanta atenção no agora. No tempo dos investidores, os gastos serão compensados daqui a alguns meses por reformas e privatizações, como tem prometido o ministro da Economia, Paulo Guedes. Mas, se o mercado começar a acreditar que as reformas não vão sair, o olhar certamente passará à difícil situação fiscal do governo. E, aí, a Bolsa cairá.

*Samy Dana é economista e estreia hoje a sua coluna no site na Jovem Pan.

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