Samy Dana: Tragédia do desemprego vai muito além da Covid-19

Se a crise inflou os números do primeiro grupo, o segundo grupo, muito maior, já enfrentava a falta de trabalho muito antes de se ouvir falar no novo coronavírus.

  • Por Samy Dana*
  • 10/08/2020 07h00
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Tony Winston/Agência Brasil Mão pressiona aparelho de captação de digital ao lado de uma carteira de trabalho Segundo o IBGE, 18,6 milhões deixaram de procurar emprego durante a pandemia

Na última quinta-feira, dados da Pnad Contínua trouxeram números trágicos sobre o desemprego. Segundo o IBGE, 8,9 milhões de pessoas ficaram sem ocupação no segundo trimestre devido à crise do novo coronavírus. Números que alguns podem usar para atacar as medidas de isolamento, mas que, na verdade, escondem uma tragédia muito maior. E que não tem nada a ver com a Covid-19.

Os quase 9 milhões de desempregados são um sintoma grave do fechamento da economia, mas outra pesquisa do IBGE, divulgada na sexta-feira, 7, apontou que o número real de desocupados no país é de 40 milhões. São pessoas que gostariam de trabalhar, mas não encontram trabalho ou, sem esperança, deixaram de procurar. Nesta conta, entram não só os 12,4 milhões de desempregados, mas também outros 28 milhões fora da força de trabalho. Se a crise inflou os números do primeiro grupo, o segundo grupo, muito maior, já enfrentava a falta de trabalho muito antes de se ouvir falar no novo coronavírus.

O distanciamento social ajudou a agravar o problema. Segundo o IBGE, 18,6 milhões deixaram de procurar emprego durante a pandemia, seja pelas medidas de distanciamento, seja por não encontrarem trabalho na localidade onde moram. Mas os 5 milhões de desalentados registrados em maio, que são os brasileiros que desistiram de procurar emprego por achar que não vão conseguir, estão pouco acima dos 4,9 milhões do segundo trimestre de 2019. Ou seja, a culpa, neste caso, não é da crise.

Em 2012, antes da economia começar a estagnar, eles eram 2 milhões. Número que subiu 153%, principalmente a partir de 2015, segundo o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas. Estes desempregados não costumam entrar nas estatísticas oficiais, que englobam só quem está procurando emprego. Se entrassem, a taxa subiria 40%, fazendo o desemprego oficial subir para mais de 17 milhões de pessoas. Como não entram, o desemprego parece menor do que é de fato.

Muitas vezes, nas discussões sobre economia, números parecem frios diante do que representam. No caso destes 28 milhões de brasileiros, a tragédia é sair de casa em busca de sustento para si e para suas famílias e voltar sem encontrar. E fazer isso seguidamente até o ponto em que simplesmente desistem. Um problema para a economia, uma vergonha para o país.

*Samy Dana é economista e colunista na Jovem Pan.

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