Ausência de liderança de Bolsonaro pode prejudicar reformas e privatizações, avalia Maílson da Nóbrega

Para o ex-ministro da Fazenda, o presidente não exerce o papel de coordenador do jogo político; por isso, ‘sempre há temor’ de que as propostas não avancem

  • Por Jovem Pan
  • 26/01/2021 10h04 - Atualizado em 26/01/2021 16h28
Marcos Corrêa/PR Sobre as propostas e entraves para as privatizações, Maílson da Nóbrega também culpou a equipe do governo pelos atrasos, afirmando que a demora é uma responsabilidade exclusiva do Executivo

O Brasil vive um momento em que o ambiente é mais favorável a reformas estruturais do que contra. A avaliação é do ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega. Para ele, o momento é ideal para que as propostas em andamento no Congresso Nacional sejam discutidas e encaminhadas, embora falte uma coordenação maior do governo federal, especialmente na figura do presidente Jair Bolsonaro. Segundo o ex-ministro, a ausência de liderança política do mandatário contribui para o temor que as reformas não avancem.”O que temos são deficiências de coordenação, ausência de liderança política do presidente. Ele não exerce o papel que é o de coordenador do jogo político, de articulação com o Congresso, de luta pela aprovação da sua agenda. Ele diz que é o presidente que encaminha e o Congresso decide, como se ele fosse o despachante e não o líder. Por isso sempre há temor que as reformas não avancem, algumas estão avançadas, como a reforma tributária, mas as outras que são fundamentais para evitar o colapso fiscal estão no Congresso desde 2019 e não andaram. Claro que a pandemia teve influência negativa, mas espero que isso possa ser mudado”, disse o ex-ministro em entrevista ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan, nesta segunda-feira, 25.

Para Maílson da Nóbrega, além da falta de posição – e apoio – político de Bolsonaro, há também falhas na postura de Paulo Guedes, que “continua com a fixação na CPMF e esquece que tem uma responsabilidade maior”. “Paulo Guedes, que devia estar na linha de frente da defesa da reforma fiscal, deu declaração que é de estarrecer. Ele disse que vai aproveitar a mudança na liderança no Congresso para discutir a CPMF. A CPMF é um imposto que não tem futuro no Brasil. O objetivo do ministro não faz muito sentido, a experiência mundial mostra que quando desonera a folha gera aumento de salário e não empregos”, argumentou. Na avaliação do ex-ministro da Fazenda, a reforma mais urgente é a emergencial que, segundo ele, irá “abrir espaço no orçamento com a criação de regras para reduzir jornada de trabalho com correspondente redução de salários”, especialmente no momento de pandemia. “Essa reforma já está no Congresso, tem um relator que é o deputado Márcio Bittar. Ele tem algumas visões distorcidas, mas já está em andamento. Ela é fundamental, sem essa reforma nós corremos dois riscos: do governo não cumprir o teto de gastos e da dificuldade de estender o auxílio emergencial na medida que a pandemia se intensifica.”

Sobre as propostas e entraves para as privatizações, Maílson da Nóbrega também culpou a equipe do governo pelos atrasos, afirmando que a demora é uma responsabilidade exclusiva do Executivo. Novamente, o ex-ministro falou sobre a falta de uma defesa, por parte de Bolsonaro, da agenda econômica e disse que as grandes privatizações não devem acontecer. “O presidente Bolsonaro nunca foi liberal e não está sendo. Primeiro porque ele interditou parte do Paulo Guedes tirando o Banco do Brasil, Caixa Econômica e tirou até Ceagesp da lista. Se o próprio presidente age desta forma, qual o futuro da privatização? Não acredito que teremos grandes privatizações do governo. Se pensar que 2022 é um ano eleitoral não vai ter mesmo, grande parte da sociedade é contra. Votar privatização em ano eleitoral parece suicídio político. Temos uma janela para privatizar que é muito curta”, avaliou, destacando o papel político de Jair Bolsonaro para o tema. “É uma tarefa essencial do presidente da República, ele é o coordenador do jogo político, é o líder do país. Ele tem uma agenda, o papel dele é lutar pela agenda e não de lutar contra ela. Dado que não tenha esse pilar é muito difícil pensar em privatização nesse governo.”

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