Após caos na bilheteria, Procon notifica empresa responsável por venda de ingressos para shows de Taylor Swift

Multa para a Time For Fun, responsável pelas apresentações da cantora no Brasil, pode chegar a R$ 13 milhões

  • Por Fabrizio Neitzke
  • 14/06/2023 17h19 - Atualizado em 14/06/2023 17h38
Reprodução/Instagram/@taylorswift ensaio de taylor swift Venda geral para apresentações no Rio e em São Paulo abriram na segunda-feira, 12, em meio a relatos de agressão nas filas das bilheterias

Com acusações de ação de cambistas e falta de organização na venda de ingressos para os shows da cantora Taylor Swift no Brasil, o Procon anunciou ter notificado a produtora do evento, a Time For Fun (T4F), nesta semana. A venda geral para as apresentações no Rio de Janeiro e em São Paulo abriram na segunda-feira, 12, em meio a relatos de ameaça e agressão nas filas das bilheterias. Fãs que acamparam em frente ao estádio Allianz Parque, na zona oeste da capital paulista, desde a noite de sexta disseram não ter encontrado ingressos disponíveis para os shows marcados para os dias 25 e 26 de novembro, mesmo tendo recebido as primeiras senhas emitidas pela produtora. O mesmo caso foi registrado no estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro, onde o evento está programado para o dia 18 do mesmo mês.

Na configuração para shows, os estádios possuem capacidade para cerca de 45 mil e 70 mil pessoas, respectivamente. Ainda assim, fãs com algumas das primeiras senhas tanto na fila presencial quanto na virtual não conseguiram realizar a compra – limitada a quatro entradas por CPF – gerando suspeitas de que cambistas teriam levado vantagem junto à empresa. A estudante de relações públicas Thais Subtil, 21, planejava sair de Gravataí, no Rio Grande do Sul, para acompanhar o show em São Paulo. Pela internet, a jovem conseguiu a senha 3953, definida aleatoriamente pelo sistema. A esperança da compra, porém, acabou indo por água abaixo, com o anúncio do esgotamento em poucos minutos.

“Estava na pré-fila desde às 8h. Me senti extremamente frustrada, pois não foram só os 10 minutos de venda para mim. Foi mais de uma semana contando os dias, pesquisando os melhores lugares e fazendo planos com meus amigos”, conta a estudante, que disse ter pedido a ajuda de mais cinco pessoas. Relatos similares também foram enviados por fãs com senhas ainda mais à frente na fila. “Aonde estão estes ingressos? Para onde eles estão indo?”, questionou a estudante Theodore Vieira, 20, na fila do Allianz Parque na última segunda. “É impossível, com 300 pessoas na minha frente, ter esgotado tudo. Qual vai ser a posição da Tickets For Fun e das empresas que estão revendendo?”, reclamou a jovem que ficou acampada por dois dias na avenida Francisco Matarazzo. Ao fundo, a multidão de fãs gritava “anda!”, reclamando da lentidão no atendimento.

A etapa das vendas do dia 12 foi a terceira e última realizada pela T4F, que havia oferecido uma pré-venda exclusiva para os compradores do show de 2020 – cancelado por conta da pandemia de Covid-19 – e outra para clientes do C6 Bank, um dos patrocinadores do evento. No site da Tickets For Fun, o número de acessos simultâneos chegou a mais de 2 milhões.

Vantagem para os cambistas

Momentos após a abertura oficial da bilheteria, onde os ingressos variavam entre R$ 190 e R$ 2.250, sites de revenda como a Viagogo já apresentavam ingressos para os mesmos shows com preços inflacionados. Até quarta-feira, 14, entradas para o setor Pista Premium no Allianz Parque podiam ser encontradas por até R$ 3.680. O valor é R$ 2.630 reais mais caro que o original, representando uma alta de mais de 250%. O mesmo site já passou a disponibilizar ingressos para os dois shows extras anunciados para os dias 19 de novembro no Rio e 24 de novembro em São Paulo, com valores superando os R$ 12 mil. As entradas, porém, ainda não chegaram a ser comercializadas oficialmente – com a data da nova abertura definida para o público geral no próximo dia 22.

Mensagens de fãs enviadas à reportagem durante a manhã de segunda-feira afirmam que cambistas “furaram” as filas presenciais e saíram da bilheteria com ingressos além do limite definido originalmente. A prática é considerada ilegal de acordo com a Lei dos Crimes contra a Economia Popular, com penas entre seis meses a dois anos de prisão, além de multa. Na ocasião, a Polícia Militar de São Paulo disse ter sido acionada no domingo, 12, por volta das 08h30. A corporação informou ter reforçado o policiamento na região, atuado para coibir furtos e atividades de cambistas e atendido ocorrências de desinteligência que, segundo nota, foram “prontamente resolvidas no local”. A reportagem da Jovem Pan News, porém, flagrou cambistas comprando ingressos na segunda-feira, mesmo diante da presença dos agentes de segurança. A nota da PM também informa que o 23º Distrito Policial, em Perdizes, investiga as ocorrências – incluindo os possíveis compradores ilegais.

De acordo com a nota oficial divulgada pelo Procon de São Paulo, os consumidores devem registrar as reclamações no site da entidade para que as empresas expliquem os procedimentos utilizados. Com a notificação, a T4F tem um prazo para apresentar a defesa e adotar medidas que solucionem os problemas destacados seguindo o Código de Defesa do Consumidor. O Procon carioca, que também notificou a T4F, disse cobrar explicações em até 10 dias e entender quais medidas serão tomadas para evitar que os ingressos não sejam monopolizados por revendedores não-autorizados “que não garantem qualquer segurança ao consumidor”. Caso o processo administrativo seja aberto e as irregularidades comprovadas, a multa estipulada pode chegar a R$ 13 milhões.

Pelo Twitter, pelo menos uma centena de fã-clubes de artistas internacionais planejam uma manifestação com a tag “fãs contra cambistas” para às 21h desta quarta-feira. Os grupos pretendem demonstrar a insatisfação contra as empresas que realizam os eventos no Brasil.

Problema antigo

As diversas falhas apontadas na venda dos ingressos para os shows de Taylor Swift devem tomar proporções ainda maiores. A deputada federal Erika Hilton (PSOL) solicitou ao Ministério Público que amplie as investigações já existentes envolvendo os shows do grupo mexicano RBD, comercializado pela Eventim, e passe a analisar também o caso da T4F.

Pelas redes sociais, a parlamentar destacou a suspeita de serviços utilizados para furar as filas virtuais. O problema foi relatado por fãs, que encontraram diversas publicações de páginas oferecendo supostas vantagens no momento da compra. Procurada pela Jovem Pan News, a Time For Fun não se manifestou sobre a divisão de ingressos entre as etapas da venda, as notificações do Procon e as acusações de facilitação da ação de cambistas até o fechamento da reportagem.

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