Mariam Ghani: de artista do Brooklyn à filha do presidente afegão

  • Por Agencia EFE
  • 01/03/2015 12h32
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Anna Buj.

Nova York, 1 mar (EFE).- Mariam Ghani é uma das muitas artistas reconhecidas ao redor do mundo que vive no bairro nova-iorquino do Brooklyn, mas há cinco meses ela é também a filha do presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, um papel que assume com naturalidade, mas com certa distância.

“Trabalhei profissionalmente no mundo da arte durante 13 anos e meu pai é presidente há poucos meses. Minha carreira como artista é mais longa do que a dele como presidente”, argumentou em entrevista à Agência Efe, antes de inaugurar sua nova exposição em uma galeria no bairro do Chelsea, na ilha de Manhattan.

Com uma notável carreira artística, após exibir seus trabalhos em salas como o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), a Tate Modern de Londres e o Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona (CCCB), ela não pretende que a comunidade artística a identifique com sua família, embora admita que isso atraia mais “atenção” para sua obra.

“Meu trabalho vem circulando no mundo da arte durante muito tempo. Se não tivesse sido assim, nunca teria deixado que esta conjunção surgisse. Mas não me envergonho. Estou muito orgulhosa do que o meu pai está fazendo”, ressaltou.

Ashraf Ghani, antropólogo de profissão, foi eleito presidente do Afeganistão em 21 de setembro sucedendo Hamid Karzai, mas até a queda do regime talibã esteve no exílio, de onde ocupou cargos em lugares de destaque, como o Banco Mundial.

Mariam, que se define como “artista, escritora, cineasta e professora”, nasceu nos Estados Unidos e até 2002 não tinha pisado no país de seu pai (sua mãe, Rula, é de origem libanesa e de denominação cristã). Ela garante que a maior parte de sua obra é fruto de sua posição de “estrangeira infiltrada”, com a qual já se sente muito confortável.

“O lugar onde me sinto como se estivesse em casa são as fronteiras”, confessou a artista, que em 2002 realizou “Permanent Transit” (Trânsito Permanente), um projeto sobre as contradições dos jovens nascidos no exílio, que se sentem acolhidos em “terra de ninguém”, como portos e aeroportos.

“Eu sou nova-iorquina e isto é, de alguma maneira, pertencer ao nada”, comentou entre risos sobre a cidade em que vive, já que nada mudou para ela desde que seu pai chegou ao poder.

No entanto, parece que algo mudou sim. Por motivos de segurança seus projetos no Afeganistão, onde tenta fazer um arquivo dos filmes salvos da repressão do regime talibã, foram afetados.

“Há uma história inteira de intelectualidade e modernismo completamente ignorada pelo Ocidente, mas que contribui na maneira como os afegãos entendem a si mesmos”, explicou Mariam, que considera que este é um bom momento para “um novo Afeganistão ser inventado pelos afegãos”.

Assim, Mariam Ghani quer recuperar o cinema, o rádio e as fotografias para lembrar seus compatriotas de épocas passadas quando o Afeganistão era um exemplo de modernidade, como nos anos 60, quando as mulheres podiam usar minissaias, ou no período do reinado de Amanullah e Soraya (1919-1929), casal lembrado com admiração por abrir o palácio ao povo pela primeira vez e por construir casas acessíveis aos mais pobres.

Feminista, ativista e liberal, ela considera que a situação das mulheres no Afeganistão ainda é muito crítica em algumas províncias. Em sua opinião, para que o trabalho de organizações as beneficie, grandes reformas de direitos humanos e de desigualdades econômicas devem ser abordadas.

“Enquanto as pessoas puderem ser tratadas como propriedade, as mulheres poderão ser tratadas como propriedade”, argumentou.

Mariam acaba de inaugurar na Galeria Ryan Lee seu mais recente trabalho, “Like Water from a Stone” (“Como água a partir da pedra”). Trata-se da exposição de algumas fotografias que fez na Noruega em parceria com a coreógrafa Erin Ellen Kelly e que transmitem a dificuldade de extrair vida em um território “hostil, mas ao mesmo tempo precioso”. EFE

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