João Côrtes faz 10 anos de carreira cheio de projetos e pregando liberdade: ‘Temos energias femininas e masculinas’
Ator falou com a Jovem Pan sobre os planos de uma carreira internacional, relembrou a campanha publicitária que o levou ao estrelato e deu spoilers de ‘Rio Connection’
A fama de João Côrtes chegou de forma pouco convencional, por meio de uma campanha publicitária de uma empresa de telefonia móvel que estrelou. Esse espaço foi o suficiente para o artista de 27 anos mostrar seu talento e ganhar espaço na TV, no cinema e no streaming. Revezando as funções de ator, cineasta, cantor, dublador e roteirista, João completa em maio 10 anos de carreira com um currículo de respeito e vários projetos engatilhados. “As coisas foram acontecendo naturalmente, um trabalho puxando o outro. Acho ótimo transitar em várias áreas e é isso que pretendo continuar sempre fazendo”, comentou o ator em entrevista ao site da Jovem Pan. Entre os novos projetos, João gravou recentemente a segunda temporada de “Encantado’s”, comédia do Globoplay na qual vive um divertido jovem que sonha em ser um astro da Broadway, e “Rio Connection”, uma produção internacional da Sony em parceria com a TV Globo que mescla atores brasileiros e estrangeiros. “O streaming veio para mudar o jogo, revolucionar a indústria e injetar muito mais oportunidades de trabalho, não só para atores, mas para ‘todes‘ que trabalham na indústria do audiovisual”, acrescenta.
Ativista, João tem usado suas redes sociais para disseminar um discurso de libertação e, visando romper estereótipos, vem expandido seu estilo, apostando no uso de maquiagem, esmalte, cropped e vestido. “O essencial mesmo é nos sentirmos livres, plenos, amados por quem nos importa. É através dessa coragem para desconstruir que a gente consegue curar e libertar outras pessoas também. Todos temos energias femininas e masculinas, mas fomos criados e ensinados a nos comportar de determinada maneira para pertencer e encaixar em um padrão. É um desserviço à humanidade achar que um padrão deve ser seguido”, pontuou o artista, que no ano passado morou por alguns meses nos Estados Unidos. Esse tempo fora do Brasil fortaleceu um antigo desejo do ator de investir na carreira internacional. “Tenho esse sonho e ambição desde criança, então, sinto que essa primeira ida a Los Angeles foi o início dessa jornada. Quero voltar para lá assim que acabar de gravar aqui”, revelou. Confira abaixo os principais trechos da entrevista:
Você ficou famoso em todo o Brasil após estrelar uma campanha publicitária. Que oportunidades surgiram na sua carreira a partir disso? Acredito que oportunidades que vieram logo na sequência deste trabalho podem ter link com o fato de terem gostado daquele personagem carismático e divertido, assim como os trabalhos subsequentes também contam com a contribuição dos que realizei como ator até ali. A tendência é você ser visto em um trabalho legal e ser chamado para outros, embora também não seja via de regra. Paralelamente aos comerciais, na mesma época, eu gravei uma série para o “GNT” chamada “3 Teresas”. No mesmo ano, filmei meu primeiro longa, “Lascados”. Depois, fiz um papel bem dramático na série “Os Experientes”, série indicada ao Emmy Internacional, em que trabalhei com a Beatriz Segall e, inclusive, foi o último trabalho dela. Desse ponto em diante, as coisas foram acontecendo naturalmente, como comentei, um trabalho puxando o outro… hoje eu posso dizer com orgulho que já fiz Teatro, Cinema, TV (canal aberto e fechado), streaming, publicidade e até dublagem de animação. Acho ótimo transitar em várias áreas e é isso que pretendo continuar sempre fazendo.
E o que mudou na sua vida profissional nesses últimos anos? Sinto que evoluí imensamente. Em todos os sentidos. Estamos sempre em constante metamorfose, né? A cada momento. E eu, particularmente, estou sempre buscando o novo, o que me desafia, o que me tira do conforto. Então, sinto que dos últimos anos pra cá fui ficando cada vez mais corajoso em minhas escolhas profissionais, selecionando e encarando projetos ousados, personagens de boa carga dramática, e também assumindo projetos autorais, que me exigiram muito, mas que foram profundamente transformadores na minha jornada artística e criativa – como ter escrito e dirigido meu primeiro longa-metragem.
Você fez novela, mas atualmente está focado em séries. Acredita que o streaming traz mais possibilidades para o ator? Com certeza absoluta. O streaming veio para mudar o jogo. Revolucionar a indústria e injetar muito mais oportunidades de trabalho, não só para atores, mas para todes que trabalham na indústria do audiovisual. Mas, obviamente, que se estamos falando de atores, a quantidade de novos projetos, novas histórias, novos personagens, triplicou. Tem muita coisa nova incrível sendo produzida aqui no Brasil, e isso inclui filmes, séries, minisséries… E tudo isso é só o começo.
“Encantado’s” ganhou uma segunda temporada. A que você atribui o sucesso dessa série cômica e é mais desafiador fazer humor sabendo que hoje as pessoas estão mais atentas aos tipos de piadas que são contadas? Acho que o sucesso da série vem da sua autenticidade, principalmente. Estamos fazendo uma série que celebra e enaltece o subúrbio carioca, o carnaval, a cultura da zona norte do Rio, os supermercados locais, as relações interpessoais. Todos esses são cenários riquíssimos de muita autenticidade e originalidade, muita música, muita história presente em cada gesto, cada fala, cada olhar. O compromisso em sermos fiéis, verdadeiros e humanos ao contar essa história, em fazer jus à cada uma dessas figuras tão potentes e presentes, é o que faz a série se destacar. E acho que o humor vem intrínseco a isso, sabe? Está nas entrelinhas, nas situações que se apresentam, e, claro, no talento de cada um desse elenco e equipe. Não estamos tentando forçar a risada. Quanto menos nos preocuparmos em fazer rir e mais deixar o humor acontecer naturalmente, melhor será. Claro que estamos sempre atentos, e isso começa pelos autores da série, para não fazermos piada do que não tem graça e/ou nunca foi piada em primeiro lugar. É nosso dever estarmos antenados ao mundo e tudo que acontece ao nosso redor para entender e respeitar os limites e os lugares que simplesmente não devem ser acessados.
O que pode adiantar de “Rio Connection”? “Rio Connection” conta a história de três mafiosos, um italiano e dois franceses, que se encontram no Rio de Janeiro dos anos 70, em plena Ditadura Militar, e unem forças para criar um canal de escoamento de heroína para os Estados Unidos. E meu personagem é Alberto Martim, um diplomata brasileiro, poderoso, carismático e excêntrico, que acaba se tornando uma peça-chave para o sucesso dessa operação da máfia. Não vou contar muito mais para não dar spoilers (risos).
Você tem algum outro projeto engatilhado que pode adiantar para a Jovem Pan? Estou gravando agora um projeto que muito em breve vou poder compartilhar com vocês. Fora isso, tenho projetos pessoais em desenvolvimento. Estou finalizando o roteiro do meu segundo longa-metragem, e estou escrevendo alguns outros roteiros no paralelo.
Você morou alguns meses nos Estados Unidos ano passado. Como foi essa mudança? Pretende trilhar uma carreira internacional? Foi um baita desafio maravilhoso. Eu sempre quis morar em Los Angeles, não só por motivos profissionais. E vivi os últimos sete meses lá. Foi extremamente gratificante, pude entender como a cidade funciona, o ritmo, a relação entre as pessoas, a energia do lugar. A sensação é de estar em outro universo mesmo, muito doido. Mas não é fácil. Pelo contrário. É ralação pura. Tenho esse sonho e ambição desde criança de trilhar uma carreira internacional, então, sinto que essa primeira ida para Los Angeles foi o início dessa jornada. Quero voltar para lá assim que acabar a série aqui.
Você também é dublador e sempre fala com muito carinho desse trabalho. O que te encanta na hora de dublar? Nossa, eu amo dublagem. O que me encanta é justamente a possibilidade de passar um arco-íris inteiro de emoções, nuances, intenções, “só” com a voz. Para mim, que sou ator, é um treino fantástico. Você se sente tão conectado com aquela história, ela gera algo dentro de você e é quase como se a voz fosse apenas uma consequência desses sentimentos. Costumo dizer que é o equilíbrio perfeito entre criatividade, sensibilidade, técnica e precisão. É bem mais difícil do que parece.
Nas suas redes sociais, você fala bastante sobre libertação e posta fotos usando maquiagem, cropped e outras peças rotuladas como “femininas” por uma sociedade em que o machismo está enraizado. Como lida com essa desconstrução de estereótipos? Acho que esses conceitos pré-estabelecidos por um sistema machista, opressor e homofóbico simplesmente não cabem mais. Não dá mais para ficarmos perpetuando mensagens de tamanha ignorância. Chega. O essencial mesmo é nos sentirmos livres, plenos, amados por quem nos importa. É através dessa coragem para desconstruir que a gente consegue curar e libertar outras pessoas também. E como artista vivendo nessa geração da humanidade, sinto a necessidade de fazer evoluir a conversa, trazer cada vez mais consciência sobre essas questões e deixar claro que essa ideia de feminino e masculino são construções sociais. Todos temos energias femininas e masculinas, mas fomos criados e ensinados a nos comportar de determinada maneira para pertencer e encaixar em um padrão. É um desserviço à humanidade achar que um padrão deve ser seguido, e que as pessoas não têm o direito de serem livres. Ou seja, vamos nos permitir ser tudo o que quisermos ser, sem medo. Só amor.
Como você se vê quando tiver 20 anos de carreira? Me vejo fazendo muito cinema, fazendo séries incríveis, dirigindo outros projetos, dirigindo meus roteiros. Quero estar trabalhando ao redor do mundo, fazendo arte com gente que me inspira e eleva o meu jogo, em todos os cantos do planeta. Quero estar contando histórias que realmente transformem a vida das pessoas, que representem algo. E quero muito ter também ótimos trabalhos e, por consequência, o nome firmado na indústria americana também.
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